sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MINHA RUA, MINHA CASA


MINHA RUA, MINHA CASA
MINHA CASA, MINHA RUA
"As raposas têm suas tocas
E as Aves do céu têm seus ninhos,
Mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”.

O Poeta já disse: “A Raça Humana É uma Semana do Trabalho de Deus” – Há quem discorda e diz que a Raça Humana um dia não foi assim tão humana: Mutações Genéticas e Seleção Natural fizeram surgir o que hoje chamamos de Homem. Seja lá como for, em ambos os casos, é o transcendental que veste a natureza dos fatos e só nos resta permitir-nos o “estado de mais absoluta perplexidade” ante os mistérios da existência. A Roda Viva da História continua a Girar porque tudo no mundo dos homens são deliciosamente hipóteses, às vezes, incrivelmente bem formuladas – hipóteses que nos permitem uma constante especulação sobre tudo e todos e são essas ondas especulativas que permitem o aparecimento de tantos universos paralelos capazes de ajudar-nos a vencer o “implacável psicopata tédio existencial”. A todo instante, em mortal sofreguidão, colocamos o Eu mais profundo à beira dos mais absurdos precipícios, na insana tentativa de encontrarmos o tal Portão do Paraíso. Tudo são quimeras porque tudo que o homem tem de concreto é esse mundo com possibilidades de especulações: O que ontem foi considerado remédio miraculoso, hoje não passa de veneno mortal e vice-versa – é tudo uma questão de circunstâncias: portas para novas especulações, o que torna menos doloroso o processo de existir num mundo onde um sol inclemente faz arder nossos corpos vencidos e é nesse contexto de deserto, onde quaisquer utopias não têm nenhum futuro plausível, que precisamos cumprir “nosso sagrado dever de consumir” – na infantil tentativa de fazer surgir oásis no outro deserto que está dentro de cada um de nós. Precisamos de todos os ópios para que nossa existência seja possível, assim, o grande deserto torna-se o grande mercado, onde tudo e todos estão à venda. Em pleno deserto, são construídos belos templos de consumo. Só seremos de fato considerados gente se nos tornamos capazes de freqüentar tais templos, onde nossas preces só serão atendidas se estiverem embrulhadas em cédulas e ornamentadas com moedas: é o
“toma lá, da cá” que, enfim, "deu sentido à existência" – porque as mentes decidiram que é essa a melhor forma de existir. O importante é ter mais dinheiro no bolso, mesmo que isso implique em não ter nenhuma esperança no coração. E é nesse frenético e incessante processo (porque é contínuo) que se dá a lógica da existência: Dita as regras quem tem mais e obedece quem quase nada tem e os que não têm absolutamente nada estão condenados a mais aviltante das condenações: A Famigerada Exclusão Social! O Capital Financeiro cria classes nas quais os homens são encarcerados. Cela Fria para os desclassificados – aqueles que não têm nenhuma proximidade com o Capital Financeiro e/ou Meios de Produção – a estes são reservados as Sarjetas Existenciais. Parece-me que quase todos os homens e mulheres do planeta azul têm uma insaciável sede de poder. Falo de um tipo de poder mórbido: Poder Comprar as Pessoas, Poder Ostentar, Poder Ditar Regras, Poder Ser Cegamente Obedecido, Poder Ser Invejado. Este tipo de poder, indubitavelmente, passa por uma estreita relação com o Capital Financeiro e os Meios de Produção e como, exceto ELE, nenhum outro homem ainda consegui materializar dinheiro do nada - faz-se necessário trabalhar de sol a sol na produção de dinheiro e na Salvação da Economia Mundial – pois, agora, tudo já é bem de consumo – até mesmo seus lindos olhos azuis, meu anjo! Precisamos de dinheiro para que as nossas necessidades sejam satisfeitas: as reais, ditas primeiras e as necessidades que ELES nos fazem crer que as temos – e assim se dá o Carnaval da Existência, onde todos os Ópios e Máscaras estão à venda, por preços nem sempre módicos! Mas faz-se imperioso consumir – só assim teremos a certeza de que estamos de fato vivos! Imaginar que na frugalidade possa estar o modelo do Novo Homem é pura heresia que deve virar cinza na fogueira de uma insana, bestial e “santa” nova inquisição! Tempo é dinheiro, consequentemente, não há tempo a perder com nada que não traga quaisquer relações com o Capital Financeiro, com os Meios de Produção, com os Mercados. Agora, a economia é global e o dinheiro já é capaz de comprar tudo – compra até perdão. Nos templos mais sofisticados já se pode fazer negócios com o próprio Deus – é o que pregam os pastores de plantão, os Pastores 24 Horas! Não é guerra contra o capitalismo, nele, creio, até há belezas! Não é apologia do que chamam Socialismo, nele, creio, até há poesias! Contudo, creio, não são os ISMOS que haverão de trazer sentido à existência. Seja lá qual for o sistema através do qual se norteia uma sociedade, tal sociedade só será de fato civilizada se seus membros tornarem-se capazes de se enxergarem uns nos outros – seja o outro quem for. O mal que eu não quero para mim não haverei de querer para o meu semelhante – pois seja pela criação ou seja pela evolução, somos todos oriundos do mesmo barro! Não se trata de uma Retórica Socrática com a infantil intenção de corrigir a existência. Sabemos, perfeitamente, que no mundo teremos muitas aflições e que a vida é feita de prazer e dor! Queremos, tão-somente, vencer as mazelas que permeiam os esquemas/sistemas que regem a existência! O Amor é a linha nada tênue que separa a barbárie da civilização. Não falo desse amor cultural-piegas que se tornou palavra mais que banal – palavra que se vulgarizou ao extremo. Hoje, o que chamamos de amor é apenas um joguinho narcisista. A esmagadora maioria de nós só somos capazes de amar aquilo que nos traga um lucro imediato e nisso estão incluídas até as relações ditas afetivas. Tudo e todos fazemos parte de um grande mercado. Se não se é e se tem uma evidente e indiscutível moeda de troca, o indivíduo em questão amargará a mais dilacerante das solidões – tornar-se-á desprezado e o mais indigno dos homens: é o Inclemente e Implacável Mercado das Relações Ditas Afetivas! É aCoisificação do Homem” – consumidor e bem de consumo, a um só tempo. Os números não podem alcançar a Alma Humana. O Amor que os Homens um dia já Sentiram Uns pelos Outros não pode mais ser resgatado? É o Poder da Cultura que Estabelece uma Nova Ordem? Tudo se paga com dinheiro. O dinheiro tornou-se o deus dos nossos dias. O deus capaz de chamar à existência aquilo que não existe ou existe apenas abstratamente. O dinheiro tornou-se senhor dos homens. Quando você for a um belo espetáculo e no final todos aplaudirem de pé, fique sabendo que, na verdade, todos os aplausos são para o Capital Financeiro, o verdadeiro autor de todas as façanhas – isso porque, com a conivência do homem, o dinheiro tornou-se senhor de todas as existências. Para o bem do tudo e de todos, o dinheiro deveria estar subordinado à Alma do Homem – aquilo que há de inextinguível em cada um de nós, aquilo que não pode ser, jamais, objeto de compra e venda! Há homens e mulheres e crianças apodrecendo nas sarjetas porque, por diversas razões, estão afastados do Capital Financeiro. Gente que se alimenta de restos apodrecidos. Gente que vive a mercê da falsa caridade de “certos projetos sociais” que visam apenas à “higienização” dos centros das metrópoles que já choram com um olho só!. Os desafortunados são conduzidos aos tais albergues que são, na verdade, depósitos de Lixo Humano Tido como Não Reciclável – não havendo, pois, nenhuma preocupação com o Resgate da Cidadania. Os esfarrapados nada produzem e representam o prejuízo e o feio de uma sociedade que é apenas uma sociedade de consumo. Definitivamente, o Capital Financeiro Venceu e quem por quaisquer motivos não tem mais vigor, aptidão ou inspiração para fabricar dinheiro está condenado a Solidão Esfarrapada das Ruas, pois tudo é bem de consumo e quase ninguém há de lançar um olhar restaurador para tais criaturas, pois elas cometeram o mais grave dos pecados – o único para o qual não há perdão: Negligenciaram sua relação com o Capital Financeiro, portanto, não merecem perdão. Apesar de toda essa lógica perversa, creio que nem tudo está perdido. Acredito que, nos porões da existência, há um pequeno grupo de homens poderosos – digo poderosos no sentido mais transcendental, espiritual da palavra. Falo de “certos burgueses” que ainda trazem no DNA a capacidade da Verdadeira Revolução! A Capacidade de Inventarem uma Nova Ordem que nos traga uma também Nova Esperança construída não apenas de números, mas também de algo capaz de alcançar o inextinguível do Espírito Humano, assim, a Liberdade do Espírito do Homem, trucidará a já anacrônica mentalidade pequeno-burguesa. Sei que há a Vitória do Capital Financeiro – os homens assim decidiram e assim será! Todavia, creio em Mutações. Sim, Pandora liberou a Esperança! Independente de qual seja o Sistema Econômico que sustenta uma sociedade, se há homens capazes de amar verdadeiramente, tudo correrá bem para todos – em todas as mesas haverá o pão-de-cada-dia e nossas crianças colherão flores inusitadas sob a luz do Segundo Sol! Nem tudo está perdido! Há, sim, muitas luzes no fim de todos os túneis. Num Universo de expressões tão secas já surgem novos termos como “Capitalismo Filantrópico” – ainda há burgueses que conservam no DNA o Germe da Verdadeira Revolução. Um Brinde a Historia, esta Magnífica Roda Viva que permite o aparecimento de Novas Invenções para que seja anulado tudo aquilo que já não tem mais nenhum valor, possibilitando o aparecimento de um Sistema Capaz de Cuidar e Acolher! Que os Mercados sejam de fato Instrumentos de Inclusão Social! Um brinde ao Novo e Humano Capitalismo - Capaz de Alcançar a Alma Humana.! A Nova Invenção talvez ainda seja apenas um embrião no útero dos neo-homens! Há de surgir a Nova e Definitiva Invenção – é uma Demanda Histórica! Uma Nova Invenção Capaz de Contemplar Liberalmente Fortes e Fracos, aliás, são os últimos quem mais precisam de atenção – mas isso é uma Questão de Amor! O Amor que os Homens um Dia já Sentiram Uns pelos Outros! Um Amor que prescinde de um corpo, de uma imagem exterior! Um amor que se detém no barro do qual oriunda todos os homens, seja pela Criação, ou seja pela Evolução e, em ambos os casos, Louvado Seja o SER!
Texto Paulo Neuman / Fotos Adrebal Lírio

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