quinta-feira, 31 de julho de 2008

Minicontos Outros (Paulo Neuman)

MAMÃE DOLORES
Agora que casa lotérica também é banco, as filas são quilométricas, onde se pode ouvir de tudo um pouco! Uma senhora falava ao filho, um moleque com cara de CDF, óculos enormes, o rosto cheio de espinhas - deve ter uns dez anos, suponho! Sua querida mamãe lhe falava de como a grana anda curta e que ele deveria esquecer essa ”idéia pródiga” de ir para o Hopi-Hari – pois ela não tem dinheiro. Também alertava o moloque para que ele não abra a boca se, no domingo, forem (ele e a mãe) à casa da Tia Célia - o moleque não pode jamais falar “daquele assunto” que só os dois sabem – sob pena de levar um "couro" ali mesmo na casa da Tia Célia! Na parede da Lotérica há um retrato de Dolores Duran! O Menino, indiferente ao alerta da mãe, de olhos fixos no retrato, diz: Veja, mãe: - Aquela Cantora se parece com a senhora! Era uma foto de Dolores Duran num Programa de Rádio! Além de eu ficar bastante curioso sobre o que o moleque não podia falar na casa da tal Tia Célia, também me intriga muito aquela fotografia de Dolores Duran numa Casa Lotérica que agora também é Banco e as Filas São Quilométricas!

PARADOXOS ANGÉLICOS

Agora, ele já tem 28 anos. Não é Capitu, mas tem os “olhos de ressaca”, sim! O Pai foi embora quando ele ainda era um bebê. A mulher dita fatal e armada até os dentes mordeu a língua do pai do menino: Derradeiro Beijo! Deus queira que ele, o Pai, no céu esteja! Se o Pai não tivesse sucumbido ao decote da mulher que carrega na mão direita a Foice, hoje o Menino-Anjo-Pornográfico seria um Anjo de Outra Natureza – Tudo seria diferente: O Menino não se colocaria no mundo como Mercadoria, ensinando a quem queira aprender que agora quase tudo já é Bem de Consumo – Divaga o poeta Utópico que o vê passar viçoso e esguio e camisa jogada no ombro e o cós da Cueca Kalvin Klein à mostra e meio ingênuo - mas ele, o Anjo Pornográfico, diz-se Mercenário! Talvez seja ele, o Anjo Pornográfico, um "Bom Complexo de Édipo Mal Resolvido" - Na casa do Anjo, todos: mãe, irmãos e até seus cães acreditam ou fingem acreditar que o Anjo não é um Anjo Pornográfico – e o poeta que o observa passar se pergunta: - Como pode um Anjo Ser Pornográfico, se os Anjos Não Têm Sexo?!

São Paulo Cainã

Foto Adrebal Lírio

São Paulo, Monóxido de Carbono

São Paulo, Sampa, Paulicéia Desvairada!

Derrama Monóxido de Carbono em Nossos Sonhos-de-cada-dia!


Em nossas veias já não corre mais sangue!

Agora, monóxido de carbono!

Ainda assim,

haveremos

de te amar até o fim, Querida Sampa!


Em nossas veias não corre sangue! Agora, monóxido de carbono! Ainda assim, não te abandono, nem hoje nem nunca, Paulicéia!


Somos TODOS Monóxidos de Carbono!

Vazio Concreto!


Meninos e Meninas - Seres Urbanos, Filhos do Monóxido de Carbono!

Meninos e Meninas que Bebemos Tuas Bienais Envenenadas!


Espaço Vazio, Um Novo Conceito em Arquitetura!



Somos todos São Paulo, Somos Brava Gente - Desbravamos todos os dias a Selva de Pedra!


Espaço Vazio e Vazio e Vazio e Eu e Nós!
É o Vazio - Nele eu Acredito!



Em teu útero, escondidas, ainda há pérolas, Gente de todos os cantos, sotaques e senhas!


Sonho-Concreto, São Paulo, Sampa, Paulicéia Desvairada!

Poesia feita de utopias, pesadelos e ferro, pedra e fé!


(Paulo Neuman)