sábado, 20 de setembro de 2008

Fragmentos Indefectíveis


Passaram-se quarenta anos, entre patacoadas e conquistas inúteis
Fragmentei-me um milhão de vezes e já não sei mais quem sou
Confundi homens com Deus e conheço bem a cara do Diabo
Agora, trago na alma a certeza de que quase tudo é inutilidade!

Sim, agora sou um ser meio Eclesiastes e já não há mais o tempo
"Existencialista com toda razão só faço o que manda o meu coração"
Entro na taça de cristal - fazendo-me vinho barato e engano a todos
Dos que me conheceram ontem nenhum me beberia no hoje-concreto!

Contudo, já não há nem o hoje nem o amanhã e nem o ontem!

Há apenas eu e você: O que se perdeu e o que se elevou!
Agora me sinto tão leve - feito pena da asa do anjo invisível
Visto minha roupa nova e viajo feliz para Belo Horizonte
E, juntos, voltaremos para São Paulo pela milésima vez!

As pontes foram construídas na madrugada inusitada
Agora, todos desfilamos pelas ruas do seu coração
E o sangue segue tranquilo pelas veias desobstruídas!

Das avenidas por onde andei, você é a mais caótica
Por isso mesmo a mais irresistível e, agora, morada minha!

VELHA CANÇÃO AZUL E DESBOTADA

Por onde anda aquelas canções
Que fazem sangrar os corações?!

Fazem brotar água nos olhos românticos!
Canções de novelas e filmes inesquecíveis!
Tempos remotos e sem trânsito caótico e fim!

Assim, tudo já está consumado - sem maiores ilusões.
Eu já sou poeta - aprendi a sentir dor e sorri e sim!

...E não e não - ausência das canções e danças
Por onde anda o meu coração? Diga-me! Você sabe!

Bestialidades e banalidades e vaidades e sacanagens
O lixo invadiu nossas vidas e bebeu a límpida canção
E já não sabemos mais dançar como antigamente, sim!

Mentiras! Mentem todos aqueles que negam a canção!
Nem todas as lições já foram aprendidas, meu caro menino!

O destino assim quis! Voltemos a falar das flores!
Apesar dos horrores-nossos-de-cada-dia - se liga, meu!
Deu borboleta na cabeça! Na cabeça de Aurora - utópica!

Artistas já preparam o manifesto. Haverá festa!
Vamos lutar e cantar e dançar e sem aquela farda!

ADEUS, MEU AMOR!
Agente se vê por lá!

Lá lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá

Por onde anda o meu coração
Aquela boa e velha canção!

“Liberdade
É uma calça velha azul e desbotada..."
Paulo Neuman

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Separação


Cada casa é uma gaiola de prender passarinhos
Uns tem penas multicoloridas; outros, pardais
Canários, Andorinhas, Paulos, Bem-te-vis!

Tranco-me eu meu apartamento - sou assustado pardal
Trago no franzino peito as incertezas de poeta contumaz
Às vezes, acredito em utopias ditas ultrapassadas e viajo!

Anacrônicas são as minhas utopias - dizem os mais informados!

Trago no peito o desejo de formar o grande exército
Não com armas e fardas sisudas - mas com peito aberto!

Certo de que o amor é o único bem universal a ser compartilhado!

Não acredito mais em pátria nem em nada abstrato
Só posso crer no Poder do Amor, não acredito em tratados!

E o amor não passa pelos mal-assombrados coitos noturnos!

O amor jamais usou coturnos, nem vive pelas esquinas.
O que eles dizem ser amor - nunca o foi nem o será!

É apenas mordida que deixa na boca uma ferida crônica!

Todos os poetas e profetas já disseram em alta voz:
Tão-somente o amor Pode Salvar o mundo do fim cinzento
Mas nenhum de nós ouviu as palavras da nua profecia

Sim! Somos todos culpados pela nudez do caos que nos cega!
A cidade que chora com um olho só - cansada e solitária e infeliz!
Esquecemos de amar cada pedra na qual tropeçamos embriagados!

Somos todos Hóspedes do Grande Manicômio! Só amamos aquilo que não nos fere!

Agora, vamos todos, com ridículas fardas, rumo ao nada
Traga mais um cálice - quero beber a cidade tão vazia!
A poesia partiu para desertos distantes - destroços!

Só há caroços estéreis pelo meio do caminho árido!

Nada mais nos lembra aqueles tempos de Carnaval Infindável
Quisera eu poder ir ao mar - dar um mergulho - lavar a alma!

Mas agora é tarde! Adeus, meu bem! Tudo bem! Tudo se acabou!
As chaves? Eu as deixo com o zelador! Os discos de Cazuza, eu os levo!

Preciso partir! Neste lugar já há muitas cinzas!
Agora, só há caroços pelo caminho muito árido!

As chaves ficam com o zelador. Adeus, meu bem!
Os discos de Cazuza são meus. Vou dar um mergulho!

Não com armas e fardas sisudas! O amor não usa coturnos!
São apenas casas de prender passarinhos. Sou um pardal!

Adeus, todos vocês que se cansaram de mim!
As chaves, eu as jogo todas no mar! Adeus
Paulo Neuman

Homem de Barro


Eu, O Homem de Barro
Acorrentado na ilusão de que sou um Deus
Meu coração faminto e vencido
Destruindo as estruturas da divindade de barro

As lágrimas:
Berram e correm livres pelo rosto de um cansado Deus
Quando eu e a metrópole choramos com um olho só!

Eu, o homem de barro, ensandecido e bêbado e errante
Quando se desfaz o barro e as lágrimas correm livres

Berram todos os meus órgãos e sentidos e utopias
Ouço canções de Chico e desfaleço outra vez

Não mais quero que me seja tirado o cálice
Eu, o homem de barro, vencido pelo escuro da terra!

Eu, quando as lágrimas correm livres pelo rosto
O rosto de um cansado Deus de berro e utopias

A história é construída de barro que se desfaz
Quando o homem desfaz o barro e voa nas asas do vento

Todas as portas de bronze são destruídas
De repente, o homem já não é mais barro!

De repente, crianças livres e capazes!
Paulo Neuman

terça-feira, 16 de setembro de 2008

PRÊT-À-PORTER



Quero ter a certeza de que as flores não são de plástico!
Não quero que os beija-flores sejam enganados!
As flores de verdade devem reproduzir-se!

"
Para não dizer que não falei das flores"

Quero roupas prontas para vestir
Tudo básico - mas de bom gosto!

Nos magazines da vida, vou adquirir minhas roupas
Todas bem informais -sem nenhum peso ou exagero
Mas todas muito radicais e imparciais - retas!

Estampas inusitadas em tardes de verão
Sertão que virou mar e bons amigos!

Uma menina de cabelos cor de trigo corre pela estrada!

Quero comida básica: feijão, arroz, frango e legumes!
Boa conversa e risadas regadas a refrigerantes e
outras águas
E a certeza de que os amigos não usam nenhuma máscara!

Básicos, vamos desfilar pelas ruas da metrópole
Driblando a hipocrisia com garrafas de água mineral
Calça jeans e camiseta - somos o sal da terra e o sol!

Deus é nosso cúmplice até o fim! A vitória é certa!
Nossa estética é outra - somos metafóricos e fortes!

Camisas brancas manchadas de vermelho!
Pé na estrada rumo ao ultracósmico!

Mal conseguimos respirar de tanta alegria
Agora sabemos que as flores não são de plástico!

Os beija-flores estão de volta, mais felizes
As calças são surradas e os tênis despretensiosos!

Vamos viajar pra dentro de nós mesmos
Onde nos acharemos por inteiro, ainda meninos!
Paulo Neuman

Lucidez



Hoje, bebi apenas sons, imagens e lembranças remotas
Tristezas e alegrias do tempo em que eu era menino!

Rejeitei a torta decorada com morangos vivos e vermelhos
Pois já sei que tudo é fugaz como casca de ovo de páscoa!

Traga-me o casaco de couro e o chapéu preto!
Faz frio na metrópole e eu vou sair por aí, aquecendo-me
Logo que a lua aparecer, saio vomitando versos inconseqüentes!

Ando sobre cascas de ovos para não acordar você
Que sonha com cavalo branco e príncipe herdeiro!

Eu não posso entrar em seu sonho de princesa
Então vou indo inteiro pelas ruas da metrópole

Não quero mais agüentar esse seu jeito Capitu de ser
Dissimulada, nunca se sabe se outros vão ao seu leito!

Olhe para o seu castelo! Está em ruínas e mal-assombrado!
O Príncipe Encantado ainda não chegou e você está tão só!

Solte seus cabelos negros e venha dançar comigo na chuva!
A liberdade, quase sempre, pertence aos plebeus vivos!

Sei que você não pode dançar na chuva - não é uma plebéia!
Então, adeus! Definitivamente, eu não pertenço ao seu sonho!

Decidido, deixo o castelo que já é mal-assombrado e infeliz
Bem que eu quis fazê-la feliz, mas as princesas são loucas!

Vejo a plebe no ponto do ônibus em busca da casa distante!

Como são felizes aqueles que nada têm a perder!
Creio que vai chover! Se assim for, dançaremos!

Um plebeu pode dançar na chuva e chegar em casa molhado
Comer a comida de ontem e dizer boa-noite a ninguém!

Atrás da chuva, vejo o castelo em ruínas progressivas
Digo adeus à princesa e entro no ônibus rumo ao infinito!
Paulo Neuman

domingo, 14 de setembro de 2008

Reflexos Indefectíveis!

Foto Marcus Vinicius Farias
Ela, morena e alta e compenetrada
Com seus indefectíveis óculos escuros
Juro que nunca vi ninguém assim: miragem!

A poesia já está maturada em mim: feito mulher grávida!

Traga-me todas as cores e dores do mundo
Tudo agora é poesia-concreta e certa e nua
Sua cara já não me é mais a do estranho
Se a concreta arquitetura-reflexiva da cidade
Faz-me enxergar todos os retratos expostos

Você e seus indefectíveis óculos escuros!

Juro que eu vi o muro sendo derrubado
Por meninos e meninas tatuados e livres
Agora, trago nas linhas da minha mão
A certeza de uma madrugada quente!

Muita gente livre atravessa o túnel
Onde todas as luzes foram acesas!

Já é madrugada - com ela está a certeza de que haverá o dia!
Quando todos apareceremos sem os indefectíveis óculos escuros!

Juro que eu a vi - linda e nua!

Paulo Neuman


O Ciúme!


Se a humanidade nunca tivesse lido os tais livros que falam de amor, ninguém, com certeza, nunca teria amado ninguém e o mundo, talvez, fosse menos angustiante! O amor, como o conhecemos, não passa de uma invenção cultural e, para deixá-lo mais perigoso, vem acompanhado de um elemento crudelíssimo chamado ciúme! O amor e o ciúme devem andar juntos – pois o amor é bem de consumo! Se não se tem a tal moeda de troca, ficar-se-á só para sempre – pois o tal amor é a base para a construção da dita família nuclear: um dos pilares da presente ordem, onde ninguém é mais ninguém e todos são apenas bens de consumo e consumidores, a um só tempo! Sim, crucifica-me se assim preferir, mas o que você chama de amor não passa de mera invenção cultural!
O verdadeiro amor é aquele que prescinde de um corpo, adentrando o universo da alma, em busca da eternidade: o instante eficiente!

Paulo Neuman

Outra Vez, Desconstrução!


Meio bêbado, meio lúcido, assobiando no ponto de ônibus
Calça jeans hiperdesbotada e utópica e rasgada e azul
A canção toca no rádio e ele tem um ar meio trágico
Meio Moska, meio Zeca Baleiro, meio todo o mundo
Assobiando uma canção, ele tenta esquecer o ontem!

Frida Kahlo, rosa perdendo pétalas - tudo ao vivo e em cores
Horrores-nossos-de-cada-dia - e ainda lê a poesia concreta
Disse-me que não mais acredita em Política Partidária
Está com o coração absolutamente partido e sangra muito

...AGORA SÓ CRÊ EM HOMENS DE CORAÇÃO PARTIDO!

Astuto, parte para a última e definitiva etapa da vida
Escrever a poesia em "casas de carne" e "açougues existenciais"
Lê a Bíblia e tudo o mais que lhe aparece pela frente

Tente riscá-lo do seu
caderno mal cuidado!
Você jamais conseguira descartá-lo! Você o ama!
Você não quer, mas ele é a sua tatuagem eterna.

Perna, braço, mão, boca oca
Bebê sem toca, útero, fígado
Gado morrendo na caatinga
Pernas quilométricas e sim
Sexo, becos e desencontros!

Encontro outra vez o Ponto de Equilíbrio e me despeço de Você!

sábado, 13 de setembro de 2008

Espetáculo!


Disseram que eu não tenho presença cênica
Chamara-me de canastrão, de cara-de-pau!

Tiraram de mim o texto e o deram a outro rapaz
Expulsaram-me a pontapés do palco iluminado
Não ofereci resistência! Saí seco e resignado!

Não sou ator com fibra suficiente para esta produção
Foi o que disse a atriz, aplaudida pelos coadjuvantes!
Em mim, não há nenhuma beleza que se possa apreciar
E o sangue vermelho não cai bem sobre a pele morena!

Sim, foi o que disseram os falsos pastores de plantão
No que foram aplaudidos pela figurinista mordaz!

Com agulhas perversas costuram-me a Boca Revolucionária!
Amordaçado estou! Não posso mais proferir verdades e poemas!

Mas, num perfeito insight, lembro-me das praças e ruas
Onde jazem os deserdados, ávidos pelo Novo Amanhecer!

Um anjo toca a minha boca, cai a mordaça!
De longe, vejo a cidade sedenta, faminta e só!

Aos famintos lanço minhas palavras como semente em terra fértil!
Desperto a ira da vanguarda ameaçada e volto ao jardim!

Com um beijo você trai o Filho do Homem!!!

Arrastaram-me para fora da cidade que enxerga com um olho só!
A cena das cenas: Sangra o Corpo! O Universo Treme de Dor!!!


No Terceiro Dia, Eu Sou a História: Começo, Meio e Fim!!!
A Cortina do Templo Foi Rasgada! Os Filhos Já Podem Voltar!!!

E Todo o Poder Cênico Me Foi Dado - Hoje e Sempre!
Entre você também! As luzes do palco já estão acesas!!!



Paulo Neuman

Espelhos Noturnos


A noite não o torna incapaz de refletir
É e sempre será um objeto reflexivo
Você pensa ter divorciado do mundo

Vou-me embora para Paris e lá está você
Como a dizer que o mundo é pequeno
Mudo-me pro Recife, feito assombração
Lá está você - performático - ácido

Dor no estômago - devora-me outra vez
E a vida segue sempre em frente - dane-se!
Seguramente você é uma assombração
Não sei mais de nenhuma reza eficaz

A cidade traz-me novidades medievais
Bruxos e inquisidores encontram-se na praça
Não há o sol da meia-noite e a atriz esquece o texto
Entro em êxtase e roubo a cena! Puta que o pariu!

Urubus rondam o cadáver - ávidos por carniça
O Bêbado atiça o cão famélico e sádico e mordaz
O sangue jorra pela praça - final apoteótico!

Caótico? Sim - é tudo muito confuso!

Paulo Neuman

Seres Urbanos

Somos e estamos e queremos: concreto e vidro
Insisto em tirar a roupa para você me ver amanhã
No centro de metrópole - tomamos aquele café
O chá: pode ser de hortelã ou mate ou erva-doce

Cogumelos gigantes atormentam minha existência!

Na escada do Teatro Municipal trocamos confidências
Confio em você e sei que jamais me trairá amanhã!
O que passou já passou! Agora, de mãos dadas!

Sempre juntos, rumo a estação de trem!
Vem, meu amor - nada se acabou!

Tudo continua como antes e a cidade chora com um olho só!
Paulo Neeuman

Eu e a Fogueirinha


Dentre todas as músicas que já ouvi e dancei
Não me lembro de nenhuma! Tudo passa depressa!

Nesta vida, só me lembro de você: céu azul e distante!
Carneirinhos de algodão e tantas estrelas cadentes!

Quase tudo se torna tão inútil, enfadonho, pesado!
Crianças somem das praças e velhos não jogam mais dama!

O drama que já tinha três atos - agora são oito!
Não há mais os biscoitos feitos pela tia Maria

As frutas apodrecem no centro da mesa pesado-escura
Desidratados, morrem todos os meus animais de estimação!

Morro de sono! Queria poder dormir vinte anos!
Tenho que permanecer acordado! De olhos bem abertos!

Decerto, eu não sou lá muito feliz!
, nesta cidade não tem pracinha da matriz!
Nem Festa de São João! Eu sou um babão?!

Traga-me um cesto de limão! Vou desafiar a dor!

Quero viajar para o interior do país!
Já não tenho mais a velha mochila!

Não tenha a mesma idade que tinha quando aqui cheguei!

Não tenho mais o par de tênis surrado - azul e branco
Não estou agüentando o tranco - fraco que sou!

Agora, a vida parece um trator que, com sadismo
Passa por cima de mim, pobre homem que sou!
Eu, ovelha sem pastor! Chame o médico! Desfaleço!

Acho que vou morrer de tanta dor no pescoço
Na alma, nas costas, nos dedos, nos sonhos, nos pés!

Quero berrar feito bicho desmamado
Não agüento mais a dor da existência
Todos zombam de mim, xingando-me de babão!

Traga-me um cesto de limão! Vou desafiar a dor!

Quero viajar pro interior do país
Traga-me um píris de veneno mortal!

As frutas apodrecem no centro da mesa
O cachorro e o gato já morreram secos!

Mas se Deus quiser, eu não vou morrer agora! Não vou!
Antes que chegue a hora de cantar junto à fogueirinha de papel!

Paulo Neuman



Elementos

Somos elementos de diferentes conjuntos
Juntos, não chegaremos ao canto determinado
Divórcio é tudo o que podemos ser amanhã
Canto aquela canção e me despeço de você

Gosto da poesia de Manoel Bandeira
Porque conheço minhas perdas e fracassos
Trago na manga a carta definitiva de ontem
Não dou bandeira - não estou apaixonado!

Nadei para não morrer na praia deserta
Volto para a metrópole com angústias urbanas
Sábado haverá sarau no bar de Rosa Maria
Contudo, trancar-me-ei naquela retrospectiva!

Enquanto lá em Trindade ninguém dorme nem hoje nem nunca...

Ontem eu era o cineasta em busca do panorâmico
A musa disse-me não mais uma vez e nada é novo
Os atores sentem fome e eu ofereço "nada" a todos
Eu não quis fazer-me de vítima - dancei forró!

Encomendei Rosas Vermelhas ao ontem-insano!
Agora já não amo mais ninguém - enganado fui!

Paguei pelas Rosas Vermelhas e nada recebi!

Nesta altura do drama, eu quero apenas desfalecer
Numa perfeita desconstrução de mim mesmo estilizado
Em sonhos, mudo de endereço e viajo feliz outra vez!

Bem que eu quis beber apenas o passado remoto
Mas a taça já estava sobre a mesa arrumada e definitiva!

Garçons circulam pela sala suspeita...
Já é madrugada e nada de concreto acontece...

Apenas um baile à fantasia:
Todos descaradamente mascarados!
Paulo Neuman

VERTIGEM





No espelho vejo a minha cara e finidade
E tudo é fugaz como a casca de um ovo!

Uma ruga aqui, outra ali! Olhos vermelhos! Boca seca!

Que eu quebre este espelho indiscreto!
Sádico, decreta o fim de todas as minhas vaidades e mentiras!
Arrasta-me a lugares onde não quero chegar acordado! Merda!

Em todos os lugares, sagrados ou profanos, há espelhos
No banheiro, na sala de espera - onde o tempo não passa!
Na sala de jantar-onde não me é oferecido o alimento!

Sento-me na velha cadeira, em frente ao novo espelho
Nada é novidade do outro lado! Na cara pálida, ainda o medo!

Quero negar todos os meus sentidos e transes e pesadelos
Odeio o meu cheiro! Assusta-me tudo o que o espelho mostra!

Quisera eu poder provar um pedaço daquela torta de limão,
Beber um pouco de licor de tangerina e partir quase feliz!

Encharco-me de perfume para fugir de quem sou amanhã
Perco o rumo e não mais me encontro lúcido ou valente
Sonhei que todos os meus dentes foram quebrados por você!

Agora, trago nas mãos trêmulas uma xícara de café forte
Tudo em mim começa a ferver como no Carnaval de ontem!

Mas, em pouco tempo, percebo de novo as cinzas
Nas rugas da minha cara, descubro a história!

A idéia do Movimento agora me parece tão distante!
Tenho medos infantis e necessidades provincianas
Enquanto a metrópole ferve em ritmos ultrapesados!

Sinto vontade de proferir palavrões e poemas
Contra meus inimigos que se vestem de santo
Todos de branco - como em primeira-comunhão!

Enquanto a cidade ferve em sons e ritmos ultrapesados
Da janela do meu quarto, olho para o passado-presente-futuro
Mas nada me é revelado de concreto! Tudo é apenas vertigem!

Ainda assim, eu sigo em frente – com as juras de amor eterno!
E, neste Inferno Existencial, espero o Paraíso que insiste em não chegar!

Paulo Neuman

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Paz e Amor!

Agora as poesias não carecem mais de títulos. As minhas não precisam. Não preciso mais obedecer a nenhuma estética, pois o meu discurso/poesia há de preservar, em seu interior, uma determinada ética. Eu não desprezo ninguém – estaria a desprezar a mim mesmo. Reconheço as minhas culpas e busco perdoar-me, não por cinismo, mas para fugir da autoflagelação, pois o meu corpo precisa está inteiro para o Grande Momento. Eu não sei que Grande Momento é esse, mas é aí que mora a minha esperança. Agora, cansado de tudo e de mim mesmo, adormeço e, em meus sonhos, vejo uma criança de tranças ruivas a correr por inusitado campo, em busca da derradeira flor! Desconhecido perfume invade o meu corpo, purificando-me de todas as culpas. Preparado estou para o encontro com os amigos. Amigos sem rostos: são como mentes sem corpos. É a minha vida que, comovido, eu retomo! Ouço um samba de roda e uma alegria ultracósmica invade a minha existência! Neste momento compreendo que, dentro de mim mesmo, está a vida que sempre sonhei. Não preciso mais de nada, apenas de você que, agora, é uma mente sem corpo!


Eu preciso escrever uma carta ao Universo, falando-lhe do meu insucesso, das tantas vezes que eu permiti que o líquido do inferno me transformasse em um louco improdutivo, causando grandes dores em meu místico corpo. Causando dores em outros corpos que, de certa forma, estão ligados ao meu corpo. Quero pedi perdão a esses corpos. Quero pedi perdão ao meu próprio corpo. Acima de tudo, quero que o Universo me perdoe. Creio na força do perdão e sem ele, o perdão, estaríamos todos condenados a precipícios irreversíveis! Eu, há muito, já teria sido tragado por um mar, cujas águas são o tal líquido do inferno que, ao invadir a minha corrente sanguínea, domina, feito um demônio crudelíssimo, a minha mente e eu esqueço que sou um poeta! Ando, como bicho no cio, por becos infectos e tenho percepções reais do inferno! Sim, nesses momentos infelizes, afasto-me de tudo o que é belo e sou o mais sujo de todos os homens, porque deixo a lucidez e a lucidez é a maior riqueza de um homem, de uma mulher, de uma criança, até mesmo dos bichos! "O que tem que ser tem muita força" - É a vida que
sempre segui seu curso imperioso – mas eu reconheço a minha extrema irresponsabilidade para com meus Projetos de Luz, uma completa falta de pensamento lógico, uma absurda entrega a emoções incoerentes com o tempo e o espaço onde vivo: o que me torna vulnerável ao tal líquido do inferno! Mas ainda tenho forças, ainda tenho sonhos, ainda tenho um amigo (eu acho) e posso desconstruir-me por inteiro, fazendo-me outro por meio da minha poesia que, em verdade, é a minha Redenção, a minha Ressurreição! A Sublimação disso tudo! Quando falo Poesia não me refiro, necessariamente, a “escritos” – falo, sobretudo, de Projeto de Vida, da busca do Perfume; pois, como disse o Poeta: “Gente é p’ra brilhar, não p’ra morrer de fome!”.

Paulo Neuman

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Eu - ainda otimista!




Agradeço a todos que, mesmo com as minhas fragilidades/fraquezas - ainda são meus amigos - crendo que Novos Tempos Virão! Agradeço à minha família pelo Grande Amor que sempre me deu e peço perdão a todos aqueles que, mesmo não querendo, eu termino ferindo! Amo muito todos vocês, parentes e possíveis amigos! Ainda quero ser uma pessoa melhor, vencendo todas as minhas debilidades! Por favor, acreditem em mim - pois o Verdadeiro Amor Pode Todos as Coisas!