terça-feira, 16 de setembro de 2008

PRÊT-À-PORTER



Quero ter a certeza de que as flores não são de plástico!
Não quero que os beija-flores sejam enganados!
As flores de verdade devem reproduzir-se!

"
Para não dizer que não falei das flores"

Quero roupas prontas para vestir
Tudo básico - mas de bom gosto!

Nos magazines da vida, vou adquirir minhas roupas
Todas bem informais -sem nenhum peso ou exagero
Mas todas muito radicais e imparciais - retas!

Estampas inusitadas em tardes de verão
Sertão que virou mar e bons amigos!

Uma menina de cabelos cor de trigo corre pela estrada!

Quero comida básica: feijão, arroz, frango e legumes!
Boa conversa e risadas regadas a refrigerantes e
outras águas
E a certeza de que os amigos não usam nenhuma máscara!

Básicos, vamos desfilar pelas ruas da metrópole
Driblando a hipocrisia com garrafas de água mineral
Calça jeans e camiseta - somos o sal da terra e o sol!

Deus é nosso cúmplice até o fim! A vitória é certa!
Nossa estética é outra - somos metafóricos e fortes!

Camisas brancas manchadas de vermelho!
Pé na estrada rumo ao ultracósmico!

Mal conseguimos respirar de tanta alegria
Agora sabemos que as flores não são de plástico!

Os beija-flores estão de volta, mais felizes
As calças são surradas e os tênis despretensiosos!

Vamos viajar pra dentro de nós mesmos
Onde nos acharemos por inteiro, ainda meninos!
Paulo Neuman

Lucidez



Hoje, bebi apenas sons, imagens e lembranças remotas
Tristezas e alegrias do tempo em que eu era menino!

Rejeitei a torta decorada com morangos vivos e vermelhos
Pois já sei que tudo é fugaz como casca de ovo de páscoa!

Traga-me o casaco de couro e o chapéu preto!
Faz frio na metrópole e eu vou sair por aí, aquecendo-me
Logo que a lua aparecer, saio vomitando versos inconseqüentes!

Ando sobre cascas de ovos para não acordar você
Que sonha com cavalo branco e príncipe herdeiro!

Eu não posso entrar em seu sonho de princesa
Então vou indo inteiro pelas ruas da metrópole

Não quero mais agüentar esse seu jeito Capitu de ser
Dissimulada, nunca se sabe se outros vão ao seu leito!

Olhe para o seu castelo! Está em ruínas e mal-assombrado!
O Príncipe Encantado ainda não chegou e você está tão só!

Solte seus cabelos negros e venha dançar comigo na chuva!
A liberdade, quase sempre, pertence aos plebeus vivos!

Sei que você não pode dançar na chuva - não é uma plebéia!
Então, adeus! Definitivamente, eu não pertenço ao seu sonho!

Decidido, deixo o castelo que já é mal-assombrado e infeliz
Bem que eu quis fazê-la feliz, mas as princesas são loucas!

Vejo a plebe no ponto do ônibus em busca da casa distante!

Como são felizes aqueles que nada têm a perder!
Creio que vai chover! Se assim for, dançaremos!

Um plebeu pode dançar na chuva e chegar em casa molhado
Comer a comida de ontem e dizer boa-noite a ninguém!

Atrás da chuva, vejo o castelo em ruínas progressivas
Digo adeus à princesa e entro no ônibus rumo ao infinito!
Paulo Neuman