quinta-feira, 31 de julho de 2008

Minicontos Outros (Paulo Neuman)

MAMÃE DOLORES
Agora que casa lotérica também é banco, as filas são quilométricas, onde se pode ouvir de tudo um pouco! Uma senhora falava ao filho, um moleque com cara de CDF, óculos enormes, o rosto cheio de espinhas - deve ter uns dez anos, suponho! Sua querida mamãe lhe falava de como a grana anda curta e que ele deveria esquecer essa ”idéia pródiga” de ir para o Hopi-Hari – pois ela não tem dinheiro. Também alertava o moloque para que ele não abra a boca se, no domingo, forem (ele e a mãe) à casa da Tia Célia - o moleque não pode jamais falar “daquele assunto” que só os dois sabem – sob pena de levar um "couro" ali mesmo na casa da Tia Célia! Na parede da Lotérica há um retrato de Dolores Duran! O Menino, indiferente ao alerta da mãe, de olhos fixos no retrato, diz: Veja, mãe: - Aquela Cantora se parece com a senhora! Era uma foto de Dolores Duran num Programa de Rádio! Além de eu ficar bastante curioso sobre o que o moleque não podia falar na casa da tal Tia Célia, também me intriga muito aquela fotografia de Dolores Duran numa Casa Lotérica que agora também é Banco e as Filas São Quilométricas!

PARADOXOS ANGÉLICOS

Agora, ele já tem 28 anos. Não é Capitu, mas tem os “olhos de ressaca”, sim! O Pai foi embora quando ele ainda era um bebê. A mulher dita fatal e armada até os dentes mordeu a língua do pai do menino: Derradeiro Beijo! Deus queira que ele, o Pai, no céu esteja! Se o Pai não tivesse sucumbido ao decote da mulher que carrega na mão direita a Foice, hoje o Menino-Anjo-Pornográfico seria um Anjo de Outra Natureza – Tudo seria diferente: O Menino não se colocaria no mundo como Mercadoria, ensinando a quem queira aprender que agora quase tudo já é Bem de Consumo – Divaga o poeta Utópico que o vê passar viçoso e esguio e camisa jogada no ombro e o cós da Cueca Kalvin Klein à mostra e meio ingênuo - mas ele, o Anjo Pornográfico, diz-se Mercenário! Talvez seja ele, o Anjo Pornográfico, um "Bom Complexo de Édipo Mal Resolvido" - Na casa do Anjo, todos: mãe, irmãos e até seus cães acreditam ou fingem acreditar que o Anjo não é um Anjo Pornográfico – e o poeta que o observa passar se pergunta: - Como pode um Anjo Ser Pornográfico, se os Anjos Não Têm Sexo?!

São Paulo Cainã

Foto Adrebal Lírio

São Paulo, Monóxido de Carbono

São Paulo, Sampa, Paulicéia Desvairada!

Derrama Monóxido de Carbono em Nossos Sonhos-de-cada-dia!


Em nossas veias já não corre mais sangue!

Agora, monóxido de carbono!

Ainda assim,

haveremos

de te amar até o fim, Querida Sampa!


Em nossas veias não corre sangue! Agora, monóxido de carbono! Ainda assim, não te abandono, nem hoje nem nunca, Paulicéia!


Somos TODOS Monóxidos de Carbono!

Vazio Concreto!


Meninos e Meninas - Seres Urbanos, Filhos do Monóxido de Carbono!

Meninos e Meninas que Bebemos Tuas Bienais Envenenadas!


Espaço Vazio, Um Novo Conceito em Arquitetura!



Somos todos São Paulo, Somos Brava Gente - Desbravamos todos os dias a Selva de Pedra!


Espaço Vazio e Vazio e Vazio e Eu e Nós!
É o Vazio - Nele eu Acredito!



Em teu útero, escondidas, ainda há pérolas, Gente de todos os cantos, sotaques e senhas!


Sonho-Concreto, São Paulo, Sampa, Paulicéia Desvairada!

Poesia feita de utopias, pesadelos e ferro, pedra e fé!


(Paulo Neuman)


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Boa Nova em Verso e Prosa (Paulo Neuman)


Sou um Homem Pós-Moderno! Acredito tão-somente em Espaços Vazios e os acho bonitos (Os Espaços Vazios)



Boa Nova - Em Verso e Prosa!

Um dia fui apenas a "boca do mato" - Hoje, trago em meus braços todas as matas remanescentes!
Ainda trago em minhas entranhas matas de um verde que só em mim existe!
Meu céu é de um azul inusitado, onde moram estrelas outras!
São únicos minhas cachoeiras e riachos!
Subindo ou descendo a ladeira, tenho o mesmo rebolado!
Tudo em mim é singular! Em mim há todos os carnavais inimagináveis!
Meu povo e sua linguagem são os benditos frutos do meu fértil ventre!
Em mim, somente em mim, mora o senso de humor!
É assim: sem abrir mão da minha essência, que deixo entrar em mim todas as revoluções: Culturais, Tecnológicas e tantas outras...
Sou a Boa Nova! Boa Nova em Verso e Prosa!
Trago em mim todas as esperanças!
Sou aquela que dança conforme a música:
Samba-de-roda ou rock pesado! Merengue ou forró!Tango ou valsa!
Lambada ou qualquer tipo de arrasta-pé!
Sou a Boa Nova no mundo! Tudo em mim faz parte de uma História Universal!
Tenho fé no Futuro! Trago a chave dos mistérios!
Tenho fé no Passado! Sou a Boca do Mato!
Sou o ontem! Sou o amanhã! Hoje, sou Boa Nova.com
.*.*.*.

No Princípio, a Boca do Mato - O Povoado, uma Gente em formação!
No Coração da Mata, a Gênese... E a História não nos abortou!
Caminhamos com passos bem firmes rumo ao Futuro!
Juro, pelas Pedras do Cruzeirão, que não seremos excluídos do mapa!
Traga, querida Pastorinha, a Nossa Saga em Verso e Prosa!
Mostra ao Universo, Imperiosa História, Nosso Passado, Presente e Futuro!
Sim, somos um Povo de sorte: Sobrevivemos às tempestades!
Nossas Pastorinhas transcendem o óbvio e o sol brilha!
Nosso Povo acende a Chama da Revolução e Caminha com Passos Firmes Rumo ao Futuro!
Juro, pelas Pedras do Cruzeirão,
Que seremos sempre um Povo em constante mutação,
porque, como disse o poeta: "O Tempo Não Pára".


O Bexiguento
A Baixa do Bexiguento - Um Conjunto de Cacimbas num Lençol de Água a banhar a plácida Boa Nova, lavando-lhe as possíveis culpas. "Água Encanada" ainda não havia! Num sobe e desce pelas ruas, sobre a rodilha, lata d'água na cabeça!- Mulheres de pele bronzeada e ginga ímpar; assim, apresenta-se o exótico-belíssimo desfile daquelas que, dia após dia, das águas misteriosas do Bexiguento tiram o sustento, enchendo as caixas d'água dos mais abastados!Em meados da década de 1970, Boa Nova passa a ter a tão sonhada "Água Encanada"! Na "inauguração da água", um improvisado Carnaval: com "mangueiras", fazem-se jatos d'água que, numa inesquecível dança das águas, lavam as ruas de paralelepípedo, em meio a muita algazarra e "batida de limão": são as boas-vindas ao progresso.Chegou a "água encanada" e nunca mais nossos olhos se deleitaram com o encantador-exótico desfile daquelas que nos davam a água-nossa-de-cada-dia: Florisa, Odete, Danga, Eurídis, Diomésia, Dona Maria Vitória... ...É o fim de uma era!

Tributo a Osório e Suas "Caretas"!
É Fevereiro, com ele a alegria que só o verão pode trazer! A cidade recebe antigos moradores que por algum motivo resolveram mudar-se! É tempo de férias! É Carnaval! A Casa de Osório, com a conivência de Bezinha, tornar-se o Quartel General da Grande Folia! Parece que todos estão na Veneza de 1680, mais precisamente, no Carnaval de Veneza, quando um bocado de mascarados invadem as ruas, numa festa meio pagã, meio cristã! Osório, na sua peculiar irreverência, põe seu bloco de mascarados nas ruas boanovenses. Caretas que perseguem crianças assustadas e, ao som do tamborim e do pandeiro e do triângulo e do diabo-a-quatro, fazem a cidade sair da sua rotina. É a comédia dell’arte que, agora, tem as ruas de Boa Nova como palco principal! É a década de 1970, quando, hoje eu sei, Osório era um Agitador Cultural!Mais bela que essas lembranças de infância só mesmo a clássica canção de ninar:“Boi, boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta!”

Dona Simplícia
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores!Toda cidadezinha do interior há de ter a pracinha da matriz, lugar mais que preferido dos namorados! Toda cidadezinha do interior há de ter o seu rio e cachoeiras para onde todos fogem nos dias ensolarados de verão! Toda cidadezinha do interior há de ter seu clube social, onde acontecem as Grandes Festas! Tantas coisas são comuns às Cidades do Interior, mas em Boa Nova há algo que só lá podemos encontrar: trata-se da Casa de Dona Simplícia! Falar da Casa de Dona Simplícia é o mesmo que falar da própria Dona Simplícia: Espaço e Pessoa se fundem numa mesma Coisa Bonita de Se Ver! Desde sempre, Dona Simplícia vive na Idade do Perfume! Sua Casa não fica no centro da cidade. Escondida em um beco periférico, a Casa de Dona Simplícia traz de volta todos os Sonhos Esquecidos! A Pureza de Alma da Pessoa espalha-se pelo lugar que a poesia agora chama de Casa de Dona Simplícia! Margaridas florescem no limpo quintal, como limpo é o Espírito de Dona Simplícia! Volto aos meus Quintais de Infância e neles adquiro a certeza de que se passarmos a estudar na Cartilha Simpliciana, haveremos de ver brotar, em nossos quintais existenciais, as Ninféias que Monet tanto amou! É no Quintal de Dona Siplícia que podemos aprender que todos os Espaços deste Mundo podem ser invadidos pelo Perfume que haverá de mudar o curso da História! Que todas as janelas sejam abertas para que o vento, generoso que é, traga o perfume oriundo dos Quintais Simplicianos!

Dona Maria-José e Seu Casarão!
Uma senhora de pele alvíssima, piedosa como uma judia ortodoxa! Sim, uma mulher sempre pronta para ajoelhar-se diante de tudo o que é sagrado! Uma mulher que parecia viver sempre no Tempo da Delicadeza, de sua boca nunca se ouviu uma palavra torpe! Uma Senhora a quem os mais novos, com profunda e verdadeira reverência, faziam absoluta questão de lhe pedirem a bênção e ela, tendo Deus como cúmplice, abençoava a todos nós!Sim, Dona Maria José morava num antigo casarão situado na avenida Nossa Senhora da Boa Nova. Um casarão com amplas salas de assoalho que ela, generosamente, cedia para que Márcina e Télia realizassem seus “dramas”! Sim, isso mesmo, dramas! Esse era o nome que se dava às produções teatrais de Márcina e Télia na década de l970 na doce Boa Nova! Ah! E aquela onça pintada na parede da sala de jantar! Era uma Onça Sinistra! Eu morria de medo! Mas a doce presença de Dona Maria José parecia deter a fera que ameaçava pular da parede e encravar suas unhas em meu pescoço! É, meu caro! Bons tempos aqueles! Hoje, quando muitos de nós parecemos bichos ferozes, prontos para destruir quem, mesmo com razão, contradiz nossos interesses! Hoje, quando as relações sociais são tão esquisitas, a doce lembrança de Dona Maria-José faz toda a diferença!

Baoa Nova e os Recém-Nascidos: Pirão de Galinha!
Um Homem! Uma Mulher! Por meio de seus corpos, surge um novo corpo: É o Espectáculo da Procriação que a Engenharia Genética, com avidez e muita ousadia, busca entender cada vez mais, para melhor manipulá-lo! Fecundação! Procriação! - Um Novo Ser Humano chega ao mundão, e essa fascinante chegada é motivo de festa, muita festa para os que aqui já se encontram! Palmadinha no bumbum – o bebê bota a boca no mundo, anunciando que uma Nova Vida começa! Um Brinde á Vida! No Mato Grosso do Sul, esse evento é festejado com grande festa, onde parentes e amigos bebem o “xixi do bebê”: generosos copos de uísque falsificado, comprado na divisa com o Paraguai. Mas em Boa Nova, a chegada do bebê é brindada com a Autêntica Temperada: uma fusão de aguardente das boas com diversas ervas nativas: losnão, erva-doce, cidreira, capim-santo, pra-tudo, fedegoso, hortelã (miúdo e graúdo), alumã, etc... Para comer, o Pirão de Galinha Caipira, regado a generosos goles de temperada! E viva a vida! A festa começou! Cachaça Temperada e Pirão de Galinha com um milhão de calorias: iguaria que faz lamber os beiços de tão apetitosa que é. Nesses momentos únicos, é esquecida a tal estética da magreza/leveza do ser, que se torna um projeto insustentável em meio a tamanha farra! Nesses momentos o que importa mesmo é a Chegada do Bebê! Muita Cachaça Temperada e Muito Pirão de Galinha Caipira e Louvado Seja Deus!

GonçaloSertãoRosaBoaNova:Veredas!
Fazer Incursões Históricas é garantir a certeza de um Futuro-Luz para aqueles que acabam de entrar em um trem chamado Louca Vida. Fazer Incursões Históricas é perceber o vão que separa o trem da plataforma! O trem segue seu curso pelas noites da eternidade. No mesmo vagão onde você se encontra agora, Ramiro empunha a Bandeira do Divino Espírito Santo. De casa em casa, ao som de tambores, levanta fundos para a Grande Festa! Na feira livre, aos sábados, depois de vender as peneiras, Gonçalo, dançarino que é, exibe-se em dança exótica! É a Vanguarda, o Pós-Moderno! É Boa Nova, Uma Utopia! Boa Nova que, de tempos em tempos, inventa novas palavras, ou nos faz lembrar que todas as palavras podem ser polissêmicas, levando-nos, assim, a um Universo meio Guimarães Rosa! Houve tempos em que Tigresa não era apenas a fêmea do tigre, ou uma exuberante mulher. Estar na Tigresa era estar na pindaíba, duro, sem grana. Grande Vantagem! "Tá" "beba", égua! "Que Charada! "Oia" o "oi" de boi! Mas, para mim, o Grande Classíco sempre foi: Segura o Pio, Liu! É... Como disse nossa querida Clarice Lispector; "A palavra é o meu domínio sobre o mundo!"

Ferro e Fogo! Fé e Caminhada!
É com uma saudade atípica: não daquelas saudades que fazem tudo doer dentro de nós! É uma saudade que nos traz a certeza de que há um fogo que queima dentro de cada um de nós - e é esse fogo que há de endireitar todas as coisas que a vida, tão sadicamente, tem entortado! É com a mais profunda e positiva saudade que me lembro da "Tenda de Seu Ambrósio e Zé Ferreiros! Aquele forno, eternamente aceso, brilhante, vivo, avermelhado! Ferros incandescentes. Seu Ambrósia e Seu José em meio aquela vermelhidão hiperaquecida! Um cenário, para mim, inesquecível e que aquece meus tempos de inverno! Lembro-me da minha - sempre que uma faca ou uma tesoura perdiam o corte, ela logo nos ordenava: "Vá até a tenda de "Compadre Josè", para que ele amole esta faca, esta tesoura! "Quanto é seu José? - É pra "Comadre Fulô? - então não é nada não! Bons tempos aqueles! Viva o Sol! Viva o calor que ainda emana da Tenda de Seu Ambrósio e Seu José Ferreiros!

Salve Dona Maria Ô!
- Quem é Maria Ô??!!- É aquela que mora na Rua dos Canudos - a rua que dá acesso ao Rio de Chico Mendonça, aliás, Rio esse que no final da década de 1970, foi transformado em "Barragem de Dr. Délio Carvalho! Incursões históricas à parte e voltemos ao fascinante mundo de Maria Ô!- Maria Ò! Por que Maria Ô?! Que nome mais atípico, meu caro!- O apelido, belíssimo na morfologia e na sonoridade, diga-se de passagem, deve-se ao fato de que a dita Maria trata a todos pelo cognome "Ô" - Isso mesmo: Para ela todos são "Ô" - desde o prfeito, delegado, passando pelo padre, às comadres, aos vizinhos; enfim, todos, conhecidos seus ou não, são, pura e simplesmente,"Ô"!Salve Dona Maria Ô, aquela que tirou o que as pessoas têm de mais sagrado: seus nomes! Maria Ô, numa atitude docemente subversiva, instituiu um único e definitivo nome para todo vivente: "Ô"!- Bom-dia, Ô! Venha cá, Ô! Quando você chegou, Ô? Não vai botar a roupa p'ra quarar, Ô? Quer comprar ovos de galinha-caipira, Ô?Para Dona Maria Ô as pessoas não têm nomes de batismo. Para ela todos, homem ou mulher, têm um único e definitivo nome - comum a todos: "Ô" - simplesmente "Ô" - e, de volta, seguindo sua cartilha subversiva, todos a tratam de Maria Ô.Minha e Dona Maria Ô eram comadres! minha a chamava, carinhosamente, de comadre Ô - no que era igualmente retribuída, é claro! Comadre Ô pra lá - Comadre Ô pra cá - e assim a vida se enche de uma beleza rara!

Quem Tem Medo de Nossa Senhora da Boa Nova?!
Em Super-Homem, a Canção o Poeta nos ensina que a mulher, com a anuência do homem, tornou-se a verdadeira musa de um poeta chamado Tempo e que o curso da história pode perfeitamente ser mudado por causa da musa, por causa da mulher! Sim, o Tempo é o maior de todos os Poetas; das entranhas desse poeta, essencialmente enigmático, emergiu o magno poema chamado “a história”! A História é a poesia escrita pelas indefectíveis mãos do tempo! E o que é o tempo? Para esse poeta não há definições convincentes! O tempo é relativo e quando, em fim, os portões da eternidade abrirem-se, você saberá que não existe passado, nem presente e nem futuro! Tudo não passava de mera ilusão, para suportar o peso do cotidiano! Eu juro, pelos eternos e infantis olhos do tempo, que nesse dia eu haverei de restituir todas as costelas a todos os homens, sem distinção alguma! Nesse dia, esta Louca Volúpia de agora deixará de ser o algoz que os mantém em eterno cárcere. Não mais haverá reféns e todos vocês serão efetivamente livres! Quando Eu me fiz carne, não se fez necessária a presença do Homem, mas não deu para excluir a mulher dessa empreitada! Sim, a Minha Loucura é mais sábia que a sabedoria humana. Eu, despido no ventre de uma certa judia: começo e fim a um só tempo: mais avançado que a mais avançada das tecnologias – (parafraseando Caetano)! Eu, o Arquiteto do Universo, a buscar a porta que me haveria de levar ao mundo que eu próprio arquitetei! Eu e a mulher! Eu e a porta que, quando aberta, leva-nos ao mundo onde haveremos de encontrar algumas alegrias e muitas aflições. Um mundo onde, mais cedo ou mais tarde, cada um haverá de encontrar seu calvário pessoal, compondo, assim, sua própria lenda! Louvado seja o Pai por essa verdade imutável. A Morte é certa, mas a ressurreição é irreversível! E, assim, a história transcende o óbvio! Sim, nesse contexto caótico, a mãe do menino tem que ser muitas numa única mulher.

Duas das Muitas Mulheres!!!
Dia Oito de Setembro, ela, a mulher, desfila triunfante em andor decorado com palmas de Santa Rita pelas ruas de Boa Nova, nesse momento de festa ela é Nossa Senhora da Boa Nova, mas quando é Sexta-Feira da Paixão, há lágrimas nos olhos e aí a mulher já é Uma Certa Senhora das Dores que sofre com a Saga Sangrenta de um Certo Menino! Nessas horas de extrema teatralidade não superada nem mesmo pelo genial criador de Hamlet; nesse momento de singular teatralidade, todas as costelas são restituídas a todos os homens que, assim, deixam de ser Pobres Mortais e transcendem o óbvio, pois o Cordeiro já fora sacrificado antes mesmo da Fundação de Todos os Mundos e, agora, o tempo não mais existe e são esses os Paradoxos que, de fato, dão sentido a vida de todos os homens!

Quem Nunca Comeu"Oiti"Que Atire o Primeiro Caroço!
O Que é um "Pé de Oiti"? - Definição Léxica: Árvore Rosácea de Frutos Edules.- Meu Deus, mas o que é mesmo um fruto edule?- , meu - tu não sabes? Fruto Edule é um Fruto Comestível - um fruto que se pode comer, sacou?- Ah! Então o "Oiti" não é um Fruto Proibido?- Não! Não é!Até o comecinho da década de 1990. toda a extensão da Avenida Nossa Senhora da Boa Nova era arborizada com frondosas árvores em canteiros centrais. Tais árvores eram carinhosamente chamadas de "Pés de Oiti". Foi debaixo de um Pé de Oiti que muitos de nós começamos a desvendar os mistérios desta Vida Louca. Debaixo de um Pé de Oiti muitos namoros começaram, muitos amores acabaram! Debaixo de um Pé de Oiti muitos tiravam uma soneca após o almoço! Debaixo de um Pé de Oiti muitos falavam "putarias": outro, em sua inocência, catava Oitis Verdes para, sonhando em se tornar "O Rei do Gado", brincar de "curral" - onde os oitis eram os bois: pernas, rabo e chifres feitos com palitos de fósforo espetados no fruto que se assemelha a uma manga, só que em tamanho bem menor! Os Pés de Oiti também serviam para se armar as "gangorras", onde os mais corajosos se aventuravam em "arrojados balões". Debaixo de um Pé de Oiti muitas conversas interessantes foram travadas! Muitos também cairam de um Pé de Oiti e quebraram o braço! Muitos comeram o Fruto de Pé de Oiti: O Oiti - fruto de sabor exótico. Comer Oiti era visto por muitas mães como uma atitude rebelde, subversiva. Não era raro ouvir de uma mãe ao ver seu filho saboreando um Oiti:- Menino, por acaso você está passando fome, traste - pra se empanturrar de Oiti? Eu, até hoje, ouso guardar Oitis Maduros em meus porões existenciais, para saboreá-los nos momentos de carência! Quem Nunca Comeu Oiti Que Atire O Primeiro Caroço! Foi saboreando um Oiti Maduro que muitos de nós descobrimos a vida!...Onde Foram Parar Os Pés de Oiti?!

Boa Nova - Anos 80!
Fervia o Rock Nacional - a trilha sonora oficial do "calçadão" - sonhos, buscas, amores, ódios, esperanças, ciúmes, fé, melancolia, alegrias outras, revoltas! Todas as Revoluções por Minuto! Diretas Já! Éramos Todos Exagerados e Tudo Explodia em Forma de Teatro no Palco do Salão Paroquial! Os Embalos de Sábado à Noite Aconteciam na Inesquecível Boate de Tuíta!

Feiras Livres! Livres Negociações!
As Revoluções Industrias arrancaram o Homem do Campo, trazendo-o para as cidades! O Homem criou o seu espaço! Sem um espaço não temos como, efetivamente, existir! Nesse espaço, tantas vezes cuidadosamente construído, que se dão as negociações, as trocas! É nesse espaço, cheio de belezas, conflitos, encontros, feiúras, prejuízos, lucros e rupturas que buscamos satisfazer nossas necessidades, primeiras e as fabricadas tantas vezes pelas nossas próprias almas carentes de novidades para que possamos sobreviver ao monótono! As cidades, como as conhecemos hoje, creio eu, são produtos diretos das ditas Revoluções Industriais! O comércio ferve, o dinheiro é o sangue que corre pelas diversas veias das Cidades, fazendo o povo delirar! É o grande carnaval da existência, onde tudo já é bem de consumo – e isso não é de todo ruim! Tudo é uma grande feira: Feira de Automóveis, Feira de Cosméticos, Feira de Moda, Feira do diabo-a-quatro! Lembro-me das Feiras Livres, (não sei por que me fascinam) Gostaria muito de ir a uma Feira Livre em Caruaru! Qualquer cidade que se preza há de ter feira livre, sobretudo as cidades do interior, onde os remanescentes das “roças” (porque quase todos já se mudaram pras cidades) vêm negociar os produtos que a terra ainda é capaz de produzir! Riacho das Traíras, Goiabeira, Tarugo, Tanquinho, Gigante, Duas Irmãs, Riacho de Areia, Pé da Ladeira... De todos esses vilarejos, dentre tantos outros, surgem os mercadores sabáticos, ocupando as feiras livres, seus espaços, onde o tomate é de uma vermelhidão assustadora e a banana-da-terra traz toda a sustância necessária para a labuta do dia-a-dia! Mercadores Sabáticos! Gonçalo, além de vender suas peneiras, também presenteia o povo com sua dança exótica, que ele aprendeu ninguém sabe onde! São todos, também, Mercadores de Ilusão! Tomates verdes e maduros, dinheiro, sangue a correr pelas veias do tempo que não pode parar! Agora, tudo é uma Grande Feira Livre, onde se dão as Negociações e Moeda de Troca faz-se imprescindível!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Minicontos Outros! (Paulo Neuman)


Lenda Urbana!
Veste-se com sacos pretos de lixo - figurinista de si próprio e roteirista e diretor e principal ator de um longa-metragem sem trilha sonora! Vive a perambular pelas adjacências da Praça da República - barba e cabelo há muito não cortados - visual que me leva a crer que ele é o verdadeiro dono do Centro Velho da metrópole. Ele é o que se pode chamar de uma lenda urbana. Ele é Real! Indago-me quem são seus pais, seus irmãos...! Sempre que eu o vejo, pergunto-me se há neste mundo alguém capaz de amá-lo!

Nostalgia
Vestido longo e preto, decote que nos faz imaginar quão fartos são seus seios, aliás, bastante firmes para sua idade! Os olhos, incrivelmente verdes, trazem charmosas rugas que nos levam a uma doce imersão na história! Ali, no lendário Beco das Garrafas (Geograficamente o espaço ainda está lá) – Ela, essa menina-senhora, chora e chora e chora a ausência da Bossa Nova no Beco que ela jura ainda ser o Beco das Garrafas!

Despedida de Casado!
Secretamente, esperta que é, conseguiu um Trabalho de Vendedora nas "Casas Bahia" – experiência ela tem – pois já teve seu próprio negócio lá no Recife! Chegaram os "Tempos das Vacas Magras" e, já aqui em São Paulo, amigou-se com um "jovem senhor" – porteiro de um prédio nas adjacências do Arouche! Um homem cheio de fantasias e caprichos um tanto quanto exóticos – segundo ela! ...Certa noite, ao voltar do trabalho, o "jovem senhor" deparou-se com armários vazios, nenhum vestido sequer a "ingrata deixou". Agora, com trabalho fixo, ela não mais precisa satisfazer as vontades de um "jovem-senhor muitíssimo estranho"! Agora, feliz da vida, ela trabalha nas "Casas Bahia" e nos finais de semana "se acaba" nos pagodes da Vila Joaniza!

Olhos e Máscaras Negros!
Tiago, olhos negros como uma jabuticaba bem madura! Na Igreja de São Judas, surge a noiva com vestido alugado, bela e dissimulada. Tiago, masoquista, exige de si mesmo que os perdoe! No altar, Charles, cínico, espera pela bruxa travestida de princesa medieval! O baile é à fantasia, onde até Veneno Mortal será servido!

Fuga
Ela acordou bem cedo – escovou os dentes amarelados, tomou café, disse bom-dia a ninguém e partiu ninguém sabe pra onde! Espero poder encontrá-la um dia qualquer, numa esquina qualquer! Tomaremos um café levemente amargo, enquanto a cidade ferve em ritmos ultrapesados. Deus queira que assim seja!

Feliz Ano-Novo!
São Pássaros em Revoada - buscam o tão sonhado Porto-Seguro. Juro que, logo depois do Carnaval, juntar-me-ei a Eles - esses Pardais Transcendentais! Agora, sem alvoroço, retiro-me, à francesa! Sigo em direção a Estação Júlio Prestes, onde um Trem-Amigo haverá de levar-me a Osasco. Ainda trago no coração incansável a certeza de um Feliz Ano-Novo; mas, agora, faz-se necessário que mil anos-luz me separem dos Pássaros em Revoada! Hoje, perco-me - para que o Amanhã me encontre Inteiro e Feliz e Eternamente Vivo!

A Dama da Noite (Antes, Durante e Depois)
Ah! Ela é assim mesmo: Com seu longo-decotado-vestido-vermelho; "perfumadamente" cheia de segundas-intenções, entra no elevador como quem nada deseja. Quando menos se espera, ela dá o bote! Depois da mordida fatal, dos lábios docemente cínicos e vermelhos e carnudos e tão-batom escapa a clássica pergunta:- Foi bom p'ra você também, meu bem?! - Assim, num piscar-de-olhos, ela faz mais uma vítima!

Eu, Tu e a História!
Era uma vez um cabrito montês!Acostumado às escarpas existenciais, obedecendo o instinto de sobrevivência, tornou-se bicho arisco - capaz de driblar as irregularidades dos montes, fazendo-se em tudo mercador e egocêntrico e mercenário: um cabrito montês. Mas, vencendo espaço e tempo, num doloroso mergulho no "eu" mais subterrâneo - em meio a suor, lágrimas e sangue, transmuta-se em Cordeiro Sacrificado antes mesmo da fundação dos mundos: Morte e Ressurreição a um só tempo - a mais avançada das tecnologias! Em bandeja de ouro, a Civilização Judaico-Cristã e era uma vez um cabrito montês. Agora, divinamente cheio de grandes propósitos, um Moço Presente em Corpo Físico e com guarda-roupa Prada: Um disfarce fashion apenas. Sim, porque agora também somos a civilização on-line e não mais haverá cabras no cio, pois não mais se levará adiante aquele velho código genético! Agora, um homem digital: Recriação da Humanidade - Nós e ELE para sempre juntos e misturados: Missa de Corpos-Vivos-Presentes e era uma vez um cabrito montês!!!!

Assim meio "Dona Doida"
Calça jeans hiperapertada, blusinha tomara-que-caia, jaqueta de couro, passos apressados e cabelo solto ao vento! Feito uma "dona doida" pós-moderna, segue pela avenida Paulista. Para sua surpresa, no vão do Masp, aos beijos, Cadu e Cris! Pobre Drica!

Uma Certa Ana
11 de Agosto de 2007, faz muito frio na metrópole. Agora, uma certa Ana, da Vila Madalena, segue, nesta tarde fria, para o Largo São Francisco, onde há festa: aniversário da Faculdade de Direito São Francisco. Na sacada do monumental edifício neocolonial, um coral solta a voz com "Cálice" - de Chico Buarque. Antes, no palco principal, o pós-moderno Tom Zé mandava todos irem tomar no verbo - filhos da letra que são; enquanto Ana, extraordinária em sua solidão, remexia os quadris - como só as deusas sabem fazer!

Fragmentos Utópicos
1968, o insano e bestial AI-5, furioso, devora quaisquer utopias! Com olhos incrivelmente verdes, ele, depois de haver lido "O Capital", torna-se o revolucionário líder estudantil! Exilado na cinzenta Londres, escreve estranhas poesias! Passaram-se os anos, veio a anistia, mas ele, hoje com 59 anos, continua a passear pelo subúrbio londrino, sempre à espera do próximo temporal e sem sentir saudade do sol inclemente que ainda aquece as utopias no País do Carnaval!
Cecília
Manhã fria de um sábado qualquer, Cecília, apressada, toma café. No metrô, a folhear uma revista de moda, segue para o Bom Retiro, onde pretende comprar um vestido que lhe caia bem: Cecília está acima do peso e, Cinderela que é, sonha com um Príncipe de Academia, beijando-lhe a boca carnuda!

Plínio e Olga!
No centro velho da metrópole, está a Galeria Olido, onde, na sala de vídeo, apenas Olga assiste a um documentário sobre dança contemporânea. Silencioso, sento-me ao seu lado. Terminado o vídeo, pergunto-lhe sobre Plínio - obtenho uma resposta seca:- Estamos separados. Agora eu sei o que todos já sabiam: Plínio é um traste que só sabe peidar e mentir - sentenciou Olga, com o coração visivelmente ferido.

Vestido de Noiva!
Estávamos eu e Gabriela, como sempre, jogando conversa fora - pois, como já foi decidido pelos Puritanos, somos apenas dois vagabundos que, feito Almas Penadas, vagam pela imensidão da Metrópole - em busca de "sarna pra se coçar". De repente, em nossa frente, eis que surge Túlio com uma mala azul, onde jaz o Vestido de Noiva que seria usado por Maria Rita. Dois dias antes da cerimônia, lúcida que é, desistiu de casar-se com Túlio! Pobre Túlio, que nunca regulou muito bem, agora vive a vagar de bar em bar, carregando a tal mala, em busca da fêmea que queira usar o vestido recusado por Maria Rita. Mas eu, sinceramente, duvido que alguma mulher, em sã consciência, queira casar-se com Túlio!
Relativismo Cultural!
O Amor, este louco fenômeno cultural, em todos os seus desdobramentos, agora me parece quase nada, diante destas contas vencidas! - Exclamou Maria Clara, com o olhar fixo na fotografia de Paulo Luís, seu marido desempregado e bêbado!


segunda-feira, 28 de julho de 2008

VOCÊ, Senhora de Mim!


Algumas Pessoas se tornam imortais pelas impressões indeléveis que deixam em nossas vidas! Para mim, Dona Flor é uma dessas Pessoas Raras!



VOCÊ – SENHORA DE MIM (Para Dona Flor, Minha Inesquecível Avó)

Quando eu soube que Você partiu
Desesperado, eu quis chorar!

Mas logo descobri que as Flores não morrem!
Elas apenas se mudam para outros campos!
Tanto é assim que ontem eu vi Você!

Eu Não estava dormindo. Andando pelas ruas...
...Na Arquitetura Reflexiva da Metrópole, enxerguei Seu Rosto!
Naquele momento, soube que nenhuma história pode parar!
Tudo e todos somos eternos como objetos reflexivos e lúdicos!

Como disse o poeta: O Jogo da vida cansa, mas encanta; hoje e sempre!
Entre nós, tudo continua como antes: Absolutamente nada mudou!

Entro na floricultura e peço Rosas Vermelhas Imutáveis!
Compro-as para mim mesmo – pois nada mudou:
Seu grande amor continua a nos envolver:
Nós, Sua Prole: "A Turma de Fulô" - Você, Flor que se cheire!

As Flores não morrem jamais!
Elas se mudam para outros campos, no bico de um beija-flor!
(Paulo Neuman)

domingo, 27 de julho de 2008


SURTO PSICÓTICO?!

Uso máscaras quase todos os dias -sejam santos ou não!
Invento Amores Impossíveis - tudo pela sobrevivência do eu demente!

Cabeça, corpo, membros...
Mentiras, ossos, estômago...
Fígado, mente, letra, música... ENTRANHAS!

Útero:
Abrem-se as cortinas vermelhas, abrem-se!
No centro do palco, a enigmática Maria Clara
Corpo gélido, olhar perdido na platéia do nada
Em minhas mãos coadjuvantes, trago o punhal!

Feito hemorragia, jorra o puro sangue
Não é sangue cenográfico! Nunca foi tão real!

Sem música, sem luz; só espaço frio e cortante e quente!

Ergo o indefectível punhal, outra vez
Agora, em meu próprio peito traidor
Jurei a mim mesmo que a perdoaria!
Não a pude perdoar - pela janela, vi tudo!
Como posso desmentir meus próprios olhos?!

Fim do primeiro ato - Lavo o rosto - escorre a maquiagem de palhaço!
Respiro fundo e bebo um cálice de vinho tinto!

Minto para mim mesmo - fingindo ser um poeta
Quando o meu corpo jaz na friúra da terra ingrata
Minto para o mundo: Maria Clara nunca existiu!

Rasguei todos os papéis engavetados, dilacerados
Supostos poemas - apenas Maria Clara em Fragmentos
Gavetas limpas: Forma Concreta de Vomitar o Abstrato!
Já não acredito no amor e nada sei sobre métrica, nada!
Creio tão-somente na fome que nos faz caçadores de gente!

O que eles chamam de amor nunca O será!

Quem me dera poder ver o corpo Sangrando em Sacrifício!
Epicentro da Dor - Princípio de Ressurreição Irreversível!

Coloco os meus óculos - fingindo ser um intelectual
Assim, quem sabe algum vivente queira ouvir-me!
Que nada - sou vaiado de pé! Meu Deus, que vexame!

Chame um médico, um curandeiro, um pastor - sinto que vou morrer!

Morto estou de vergonha! Desta vez deu tudo errado!
Apostei tudo nesta cena! Dei tudo de mim, merda!
...Música, luz, espaço, figurino, punhal de prata...

Deu tudo errado e todos gritam em corro: Bosta, Idiota...
...Jogue lama no miserável - quero o meu dinheiro de volta!

Meu Deus, eu achei a cena antológica!
Sentia-me um Monstro Sagrado!

Se Augusto dos Anjos estivesse na platéia, eu seria aplaudido de pé!

Mas nem tudo é lamentação - houve quem tivesse pena de mim!
Não foram apenas eufóricas vaias - uns choraram a minha dor!

Pela terceira vez, trago nas mãos o já conhecido punhal!

Agora, sangra todo o corpo - é o fim, é o começo!
Como numa menstruação, aborto a possibilidade de vaias!

Cai o pano, manchado de vermelho
Fim das cenas! Estranhas Cenas!

Ouve-se uma voz vinda dos céus:

- Não chore, menino - A Cortina do Templo Será Rompida!
A Cortina Será Rasgada e você também vai entrar!


Paulo Neuman

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quinta-feira, 24 de julho de 2008

SONHOS E TRILHOS (Para Carlos Eugênio Rossi)

Foto Carlos Eugênio Rossi

Foto Adrebal Lírio
Meio louco e visionário e anjo e menino
Vive a dizer que o futuro viaja sobre trilhos

Meio Paranapiacaba! Meio Velhas Estações!
Ele viaja desiludido sobre os trilhos da história!

Outrora, Estação da Luz - agora, ficou escuro!
Monturo e homens não-recicláveis: ferro velho!
Berra o menino que vive sobre trilhos urbanos!

Revolucionários são seus olhos e angústias
De quem não quer sair dos trilhos da vida!

Estou descarrilado! Preciso que ele tome logo o Poder
E Coloque o Mundo nos Trilhos da Uma Nova Viagem!

Em seu esconderijo, trens em convincentes utópicas miniaturas
Tudo da altura de um sonho: UM PAÍS SOBRE TRILHOS!

...Mas qual é a altura de um sonho?
- Suponho que todo sonho seja gigante-revolucionário!


Paulo Neuman

ESCATOLOGIA


E foi com os pés sujos que eles pisaram as uvas maduras
Deram-me de beber o vinho tinto, amargo e embriagador
Depois edificaram cidades-dor que choram com um olho só
Agora, somente você pode fazer-me livre mais uma vez

Mas você não existe no agora! Você é um ser conceitual
Exposto num grande espaço cubista, fechado – vanguarda-inatingível!

Traga-me mais um cálice do vinho tinto – Sou Infeliz!
Estou cagado! Estou todo cagado e não caibo em lugares santos!

Todos, agora, fogem de mim! Mas também estão cagados!
Eu estou cagado, sim! Estou cagado, e daí?
Estamos Todos cagados!

No metrô, uma mulher bonita e perfumada e sexy finge estar limpa
Mas estamos todos cagados e mal-amados e cegos e perdidos!

AGORA SOMOS A PRÓPRIA PEDRA: O Estorvo

Não há mais trigo para preparar o Pão-da-Vida!
Entre idas e voltas, ficamos paralisados no meio da estrada!
Não há mais trigo para preparar o Pão-da-Vida!

Estamos todos cagados! Nada saiu conforme o combinado!
Vista seu pijama listrado e vá namorar o travesseiro!
Você está só e cagado. O namoro não virou casamento
Entro no quarto escuro e não ouço mais aquela canção!

Construímos metrópoles e espetáculos e imagens e feridas!
Sinto saudades de Frida - cores e sofrimentos e vitórias!

Agora, promovemos espetáculos tecnológicos – apenas isso!
Insisto em dizer que estamos todos cagados e sem inspiração

...Isso não é poesia – é bosta! Poeta, você é uma merda pessimista!
- ligado! Não sou poeta! Sou apenas alguém que sente muita dor!

Todos me enganaram: chamando-me de irmão,
em seguida me abandonaram!

Trago no corpo feridas que não cicatrizam – as cruéis chicotadas – as mordidas!

Sou ovelha desgarrada! Imundo, corro pelas avenidas da metrópole
Busco você, um ser conceitual onde eu retornaria ao princípio de mim:
Quando eu não estava cagado e nem sequer sabia o que era BOSTA!

Droga, que vida filha-da-puta!
Todos temos um código de barra na testa!


...E muitos de nós nada valemos!

Com os pés sujos de sangue inimigo, esmagaram as uvas!
Deram-me de beber o vinho tinto e amargo e matador!
Edificaram cidades, criaram leis e acenderam as fogueiras!

E, neste inferno existencial, vivo esperando você! Apenas você!
Agora, apesar dos espetáculos, estamos todos cagados!

Paulo Neuman

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Fragmentos Escatológicos


Sinto saudades de Frida
Cores e sofrimentos e alegrias outras
Amanhã e hoje e ontem, eu em fragmentos
Tento ser gente, mas só existo em uivos

E as tetas da vaca não mais me darão o leite

Tudo São Uivos Urbanos: Modrnidade Suspeita!
Deita sobre o meu corpo e faz-me viver!


Paulo Cainã