sábado, 13 de setembro de 2008

Eu e a Fogueirinha


Dentre todas as músicas que já ouvi e dancei
Não me lembro de nenhuma! Tudo passa depressa!

Nesta vida, só me lembro de você: céu azul e distante!
Carneirinhos de algodão e tantas estrelas cadentes!

Quase tudo se torna tão inútil, enfadonho, pesado!
Crianças somem das praças e velhos não jogam mais dama!

O drama que já tinha três atos - agora são oito!
Não há mais os biscoitos feitos pela tia Maria

As frutas apodrecem no centro da mesa pesado-escura
Desidratados, morrem todos os meus animais de estimação!

Morro de sono! Queria poder dormir vinte anos!
Tenho que permanecer acordado! De olhos bem abertos!

Decerto, eu não sou lá muito feliz!
, nesta cidade não tem pracinha da matriz!
Nem Festa de São João! Eu sou um babão?!

Traga-me um cesto de limão! Vou desafiar a dor!

Quero viajar para o interior do país!
Já não tenho mais a velha mochila!

Não tenha a mesma idade que tinha quando aqui cheguei!

Não tenho mais o par de tênis surrado - azul e branco
Não estou agüentando o tranco - fraco que sou!

Agora, a vida parece um trator que, com sadismo
Passa por cima de mim, pobre homem que sou!
Eu, ovelha sem pastor! Chame o médico! Desfaleço!

Acho que vou morrer de tanta dor no pescoço
Na alma, nas costas, nos dedos, nos sonhos, nos pés!

Quero berrar feito bicho desmamado
Não agüento mais a dor da existência
Todos zombam de mim, xingando-me de babão!

Traga-me um cesto de limão! Vou desafiar a dor!

Quero viajar pro interior do país
Traga-me um píris de veneno mortal!

As frutas apodrecem no centro da mesa
O cachorro e o gato já morreram secos!

Mas se Deus quiser, eu não vou morrer agora! Não vou!
Antes que chegue a hora de cantar junto à fogueirinha de papel!

Paulo Neuman



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