sábado, 11 de outubro de 2008

HEMATOMAS




Do lado de fora, em sua beleza complexa
Pulsa a metrópole, com seus nobres e plebeus
No Metrô, mil caras, tantos sonhos e pesadelos
Sim, São os homens em dias úteis - as fábricas!

Mas aqui deste lado, somente eu: feio e só
Exilado estou nos hematomas dos meus olhos
Quem me dera poder trazer a minha mãe do túmulo
Voltaria vencido para o seu útero e seios!

Mas o levantar dos mortos é coisa dos céus!

Do lado de fora, os belos fazem a beleza da cidade
Teatros, negócios, museus, igrejas, luzes, jantares
Aqui dentro, um homem em cinzas - nem houve carnaval
Um dia ele sonhou que seria o Sal da Terra, coitado!

Ele nunca foi bonito, mas agora parece um bicho
Se ele pudesse chorar - menor seria a dor que arde
Mas já não há mais lágrimas -secaram-se os rios
Ele sente medo, está acuado, vencido, desolado!

No rádio ele ouve uma canção de Gil e outras tantas
Muitas canções o fazem chorar, noutras até tenta rir
Mas o que ele quer mesmo é embarcar no expresso 2222
Pois dizem que lá o Cristo já está subindo ao Céu!

No madeiro todos ficam muito feios! Até mesmo ELE ficou horrendo!
Mas a morte é a porta que nos conduz para o outro lado!

Lá fora há sol e as pessoas fazem as cenas cotidianas
Aqui dentro, coração quase parado, ele sai de cena
E se todos virarem a cara para ele?! Ele é fraco!
É transgressor, é infeliz, é pecador, é traidor...

Que ele possa ter fé no Concreto de Luz, Altíssimo!

Podem bani-lo do quadro da vida
Cores e formas já não são as mesmas!

Para ele tudo já é diferente daquelas belas cores e formas
Músicas, telas e esculturas que um dia adornaram seus sonhos!

Por uma questão de justiça, não se pode ter piedade dele!
Afinal, não passa de um transgressor, porco feio e vencido

Que todos os hematomas lhe caiam como uma luva, miserável!
Que a aflição seja a sua comida e que fique só - feridas e pesadelos!

Todos sabem de tudo! Ele ainda não sabe tudo sobre si mesmo!
Poucos sabem que há um capaz de criar a partir do nada
Não chore, menino! Se Deus quiser, hematomas não será o seu fim
É preciso que alguém o diga que hematomas não são nada!
Paulo Neuman

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