domingo, 19 de outubro de 2008

Feliz Ano-Novo!


Quisera eu poder acordar o sol com uma canção
Sinto-me em alta tensão - cabeça em ebulição!

As lições de ontem, preciso entendê-las outra vez
Espero pelo Novo-Ano - crendo poder está com você!

Sonho com fogos de artifício explodindo em nosso céu
Estrelas e luas nuca vistas e chuva azul artificial!

Busco, em cada febre e transe, um novo tempo necessário
Estou cansado de ser apenas a poeira nos pés dos errantes!

Adeus, terra! Adeus, mar! Quero um Novo e Definitivo Continente!

Preciso da minha e da sua coragem ultracósmicas!
Vamos abrir a porta e, intrépidos, ganharemos a rua!

Adeus, terra! Adeus, mar! Quero um novo e definitivo conflito!
Estamos tristes, feridos e molhados - mas vamos ser valentes!

Que a nossa sorte venha sempre do Alto! Feliz Ano-Novo!
Outra vez olho para o mar e enxergo o Sonho Azul!

Pegue as mochilas - velhas e novas - vamos partir amanhã cedo!
O Novo-Ano está chegando - deixe a porta aberta! Ele vai entrar!

Metralhadoras não vamos levar - nem espadas ou foices!
Hoje, o amor é o único bem universal a ser compartilhado!

Também não leve vinho! Precisamos de toda a lucidez do mundo!
Traga lanternas - pois as cavernas são muito escuras!

Vamos - vestidos com largos sorrisos e força imutável!
Feliz Ano-Novo! O Novo Dia Já Amanheceu! Somos Outros!

Com Água Cristalina, um brinde à Estrela da Manhã!
Adeus, terra! Adeus, mar! Vamos Cantar uma Nova Canção!
Paulo Neuman

Carnavalcinzas


A porta-bandeira já está desequilibrada
O samba não tem refrão,beleza nem puxador
Já não estamos mais no País do Carnaval!

Valeu! Foi bom enquanto durou! Adeus!
Vamos reinventar o país sem carnaval
A pedra filosofal pode estar nas cinzas!

Que todo lamento seja transformado em canção
Não somos mais o país do futebol e chove forte
Mas vamos revirar as cinzas em busca da paz!

Pedro, João e Maria vão coletar o lixo reciclável
Lucas e Ana vão compor uma nova canção de ninar
Há tantas crianças acordadas e nuas pelos caminhos!

Não temos mais os craques de outrora
Aurora virou prostituta e emagreceu!

Tadeu perdeu-se no mundo e Júlia evaporou-se!

Vamos revirar as cinzas! Haveremos de nos achar!
Tudo o que se perdeu é lixo reciclável! Vamos buscar!
A história não acabou! Tudo recomeça no vazio das cinzas!

Sem a ilusão da bateria, sonhamos lúcidos
Sem magistrais gols, reedificamos a cidade
A porta-bandeira desequilibrou-se e caiu!

Basta de lamentações! Estamos todos debaixo das cinzas!

Traga as pás! Vamos trabalhar até no domingo!
Temos pressa! A história não pode esperar!
Por causa das cinzas, amanhã seremos outros!

Vamos criar novos ritmos, sons e formas
Crianças que Dançam ao Som da Nova Canção!

Paulo Neuman

Café Amargo


No escuro, subo a escada que me leva ao quarto quase vazio
Trago nas mãos uma xícara de café e o chapéu-panamá preto!
Acendo a luz e não enxergo ninguém a quem dizer boa-noite!

Há algo de errado comigo: todos podem dizer boa-noite a alguém!

Da janela, vejo as luzes acesas em apartamentos e ruas
Não penso em passear pela cidade que chora com um olho só!

Quero continuar assim: com medo e sozinho e aqui!
Ligo o rádio e ouço Velhas Canções! Lembro-me de Você!

Aprendo de novo Antigas Lições!

Dou o troco ao medo idiota
Dou a volta por cima! Subo a escada no escuro!

Juro que não mais tenho medo - o menino morreu - cresci!

Provo a mim mesmo que já não tenho mais medo
Acendo a luz e vejo o vazio do quarto
Trago nas mãos quase nada de concreto!

Agora, nas mãos, apenas o chapéu preto
Na há mais, sequer, o café amargo
Nas mãos, trago também os dedos!

Meus Deus, que bobagem é a minha vida!
Não tenho do que falar! Falo dos dedos!
Das unhas, das feridas e de outras vulgaridades!

Pela primeira vez, reparo em meus dedos
São tão esquisitos: Finos e compridos
As unhas não estão feitas: preciso cuidar de mim

Enquanto isso, a cidade ferve em sons diversos
Aqui, apenas o silêncio de quem contempla a própria mão
Analisa o tamanho dos dedos e tem medos infantis!

Eu queria ser um ator, um poeta!
No papel, no palco, na tela... onde tudo é possível e certeiro!
Contemplaria os meus dedos! Eufórica, a plateia aplaudiria!

Vitorioso, subo a escada sem os medos de menino
Certo do aplauso que nos dar forma, cor e som!

Paulo Neuman

Existencialismo


Vejo as frutas apodrecendo na fruteira sobre a mesa!
Passivas vão, juntas, em decomposição
Ação da vida que passa pela janela do trem!

Eu bem que avisei a Maria Clara sobre os príncipes encantados!

Há tempo para tudo e para todos
Há tempo para se decompor na íntegra!

"Existencialista com toda razão - só faz o que manda o seu coração!".

Mas também morreu - como frutas no centro da mesa
Como passarinho que, ingênuo, cai na armadilha!
A vida passa com pressa pela janela do trem pesado!

Seu olhar é de aço!
Mas também morreu!
Pois há tempo para tudo!

Enquanto a vida passa apressada
É melhor dançar no carnaval
Jogar futebol e sonhar!

Vejo uma folha que cai da árvore
Fora da árvore, ela não mais existe
Apenas vaga em busca de uma poça d 'água!

Traga mais um cálice!
Bebo a cidade que chora com um olho só!

Quero ir a Paris - mas não tenho dinheiro!

Quero viajar para as Ilhas Gregas
Ilhéus, Porto Seguro ou Salvador
Mas não tenho dinheiro e o tempo passa!

Em minha casa há um pé de abacate
Onde canta um sabiá sem ninho e só
Assim o tempo vai passando nu e cru
Entre canções esquecidas e versos ingênuos

"Existencialista com toda razão - só faz o que manda o seu coração!".
Dança no carnaval enquanto a morte não chega!

Paulo Neuman

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Concreto


Neste momento obscuro, quero tudo
Atitudes de lobos solitários e rosários
Preciso rezar aquela velha oração-súplica

Cada rua é um beco de esconder condenado
Trago na boca o gosto seco da derrota
Por tudo e todos, bebo da minha poesia

Sim! Ainda sou poeta incurável, todo eu
Mas tenho pavor do que possa ser a poesia
Por isso guardo todo papel e caneta que encontro
Em gavetas primitivas e inacessíveis e trancadas

Traga-me seu rosto, Maria dos Aflitos e Condenados!
Quero seus sonhos, porque sou apenas um poeta cheio de pecados!

Às vezes penso estar ligeiramente morto
Louco, pelos becos antigos da metrópole
Ouço palavras vindas não sei de onde!

Afaste-se de mim, vadia
Vaza da minha vida-cigana
Porque agora sou poeta! !

Ninguém mais me engana!
Paulo Neuman

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Nova Era


Era uma vez um menino que sonhou com a igualdade entre os homens. Agora ele já é mais que um homem e sabe que jamais haverá igualdades, pois são exatamente as diferenças que constituem este mundo tão fascinante e tão belo e tão medonho, a um só tempo! Continua não abrindo mão das "boas e velhas canções", mas não desconsidera, jamais, o valor do novo, pois, como bem disse o Poeta: "O Museu é de Grandes Novidades!" Mas para o menino a grande novidade será mesmo o dia em que "alguns poucos" se encontrarem no "canteiro de obras" para a Construção do Grande Edifício Humano do Paz!" Agora, traz mais um xícara de chá bem quente para o menino, para que ele adormeça feliz e tenha outros sonhos proféticos! Amanhã, já faremos, paradoxalmente, um brinde à "economia de mercado", se ela for capaz de promover a tão sonhada/decantada inclusão social, ampliando a classe média e saciando a sede/fome do povo - para que não falte pão e outras coisas mais na mesa de quem quer que seja! Estou feliz: o sol de primavera/verão já começa iluminar a periferia - e a vida é pura magia! Quero permanecer neste espaço generosamente concedido aos desocupados - não quero me preocupar com mais nada que não seja a "Estanha Revolução" - cheia de paradoxos, mas repleta de boas intenções. Agora, já sabemos que o "velho barbudo" equivocou-se em muitos pontos - mas não faz mal, nós o amamos mesmo assim e haveremos de promover as adaptações que se fizerem necessárias! Agora, preciso correr atrás do sítio e começar o processo de agregação! Estou feliz, porque o homem não tem limites pra sonhar, ainda que seus sonhos pareçam ridículos a outros. O sol de primavera/verão já alumia a periferia e a vida é pura magia! Agora, seguindo o exemplo de Chang Tsai, aconteça o que acontecer, permanecerei sempre sóbrio, nunca mais bêbado! A lucidez é o principal "capital" para qualquer empreitada! Até os bichos precisam ser lúcidos, para que a vida siga em seu curso normal! Um brinde à Revolução! Um brinde com "água de coco" - A vida é pura magia e viva Caetano Veloso!
Paulo Neuman


sábado, 11 de outubro de 2008

EU


De forma direta ou oblíqua, eu só posso amar o que há de poesia nos objetos! Veja a Estação da Luz! Estas torres-pirâmides com ângulos retos e eu permaneço na base e sigo com o ardente desejo de ter a parte que me cabe neste latifúndio de titânio e concreto e vidro e poesia concreta e crua e eu Capão Redondo: Grande Sertão: Veredas! Em que eu acredito? Eu acredito na Declaração Universal dos Direitos Humanos! Acredito, também, como me ensinou Tom Zé, que, entre a Augusta e a Angélica, eu haverei de encontrar a Consolação! Eu acredito em Hamlet, o Angustiado Príncipe da Dinamarca! Acredito que Eu e o Pai podemos ser Um! E, por fim, acredito que muitos de nós já estamos na Idade do Perfume!
Paulo Neuman

Um Sonho!


Sem dúvida, o mais belo sonho que eu já tive: a casa era muito grande, na cozinha, homens e mulheres, felizes, tomavam o café da manhã: mesa farta e a todos eu chamava de caros irmãos - todos se abraçavam com ternura: Uma Verdadeira Celebração!

Boa Nova


Todos têm nome atípico e forte
Estereótipos de neo-homens vivos
Transfiguram-se em seres cósmicos!

Tudo em que tocam vira ouro inusitado
São os cavaleiros do futuro-luz!

Exército de homens do outro mundo
Invencíveis, mas capazes de amar
São como Pedras do Templo Concreto!


Só lhe resta chorar de vergonha, homem-comum!
O futuro já chegou e com ele, os Novos-Homens!

O ontem já é o passado inócuo e sem cor!

Todas as suas invenções perderam o valor
A história começa agora com os neo-homens!

Eles são mais velozes que os anjos maiores
Agora, são os donos da história e do tempo
Nasceram da Água e do Sangue: Transfiguração!

Transcenderam a história e agora recriam a existência!

O universo, em verso e prosa, celebra a revelação
Todas as luzes do túnel foram acesas na madrugada!

Tudo é dádiva do Pai que nos faz beber do Sangue que Lava a História!

Agora conhecemos toda a Verdade Imutável!
Os Neo-Homens são a resposta do ALTÍSSIMO!

Entrem todos! A FESTA já começou! Ouve-se a Nova Canção!
Os Neo-Homens são seres forjados na DOR e usam
ROUPAS NOVAS!
Paulo Neuman

ENTRESSAFRA


Na geladeira encontro uma beterraba esquecida
Sei que a minha vida é cheia de Novas Esquinas
Pego o liqüidificador e preparo-me um suco vermelho!

Agora não tenho dinheiro e não sei quando terei filhos
Agrada-me o cheiro de terra que a beterraba traz
Gosto da sua vermelhidão absoluta e vertiginosa!

Vejo o pé de abacate e penso na entressafra
Quando sentimos a falta de pão e vinho tinto!

Muitos dizem conhecer-me, mas nem sabem o meu nome!

Não podem ultrapassar a entrecasca que vai dar em mim
Epicentro de todas as perguntas e utopias não esquecidas!

Na geladeira encontro uma beterraba solitária
Sei que a vida é cheia de interrogações e não!

Hoje sonhei com quintais de infância e árvores frutíferas!

Forte é o enredo desta minha saga que me leva ao desconhecido!
Tortas decoradas com morangos vivos e novas canções no rádio!
Da janela, vejo ruas e prédios iluminados, convincentes
Sim, lá pode haver criança feliz! pais vivos e sorridentes!

São Paulo é a Minha Boa Nova Ampliada, Amplificada!
Sons e Formas que me fazem acontecer e ser a PEDRA!

Drástica Poesia! Às vezes, pura insanidade fria
Pancada na cara, beijos, afagos e outros incêndios
Dia de sair de casa, dia de recolher-se resignado! .

Sim, trago na cara todos os espinhos de São Paulo!

Em silêncio, minha saga vai sendo escrita nos muros da metrópole
Linhas divisórias que me separam do eu sagrado e nu e revelador!
Sonhos, água e beterraba já estão juntos - o suco é vermelho e doce!

Sobre o rosto moreno, corre a lágrima - não de tristeza.
Às vezes, os olhos dão risada do que enxergam no espaço vazio
Palco onde a história toma forma e encanta os incrédulos bêbados!

Espaço, luz, som e mais uma infinidade de linhas incertas e cruas
Ora curvas, ora retas - mas todas acabam no mesmo lugar inusitado
Onde conto histórias para mim mesmo e bebo o suco cor de sangue!
Paulo Neuman

Pão e Água


Qual a água que me poderá lavar a culpa?
Que água vai curar a minha sede e me fazer de novo dançar?

Que palavras e pão ultracósmicos sejam a minha comida!
E que em mim qualquer palavra seja como semente sã!

Que á minha frente esteja posta a mesa do Banquete Ultracósmico!
Não! Não sou pretensioso - apenas busco a Verdadeira Bênção!
Prometida aos pecadores, aos errantes de pés e cara empoeirados!

Estamos cansados - necessitamos de pousada urgente!
De gente que queira enxugar nosso suor existencial
Falta-nos a força nos braços magros - dores em todos os órgãos!

Sim! Somos todos culpados! Não somos mais crianças!
Em nós, há ânsia de vômito - estômagos revirados!

Quem somos nós?
Somos nós que por vós esperamos!

Tímidos, navegamos até aqui - só pra te ver!
Mata-nos a sede e a fome e a vontade de morrer!

Somos todos réus confessos e empoeirados
Salva-nos e seremos cativos teus!

Estamos tontos, desorientados, culpados
Cabeças raspadas - estamos nus e sozinhos!

Somos nós que por vós esperamos!

Sê tu o nosso pai - apesar dos nossos pés empoeirados
Nós somos nós que por vós esperamos aflitos!

Que nós também comamos do Pão!
Queremos beber do Sangue da Uva!

Sabemos que haverá festa! Faz-nos comer da Carne do Sacrifício!
Somos culpados! Somos nós que por vós esperamos - despedaçados!

Faz-nos comer da Carne do Sacrifício!
Para sermos o Grande Edifício Humano da Paz!
Paulo Neuman

PRECE DE PRIMAVERA




Queira eu suplicar ao Altíssimo Deus
Que me fossem abertas as Janelas do Céu
Mas já não posso gritar! Amordaçado estou!

E por que tais janelas ser-me-iam abertas?!

Sim, sou o mais miserável de todos os homens
Hoje, já não há quem queira juntar-se a mim
Assim, vejo a primavera chegar como inverno!

Quisera eu suplicar ao Altíssimo Deus
Faz-me outro e deixa-me viver mais um pouco!
Preciso abrir as portas que levam aos quintais!

Não tenho fibra suficiente para viver o agora
Sinto saudades dos quintais de infância e viajo
Trago na carne o desejo de ser como os anjos do céu!

Minh'alma geme dentro de mim e todos os órgãos gritam de dor!

Quisera eu ser uma estrela cadente, deslizando no céu
Mas sou apenas aquele que perdeu o rumo! Estou nu e só!

Quero marcar um encontro com o Altíssimo
Seja lá onde for! Lá estarei em lágrimas!

Preciso vê-LO! Contemplar o Seu Rosto!
Beijar os Seus Pés e voltar renovado!

Não quero dinheiro! Não quero fama!
Só quero vencer o destino e ser livre!

Quero ser como os anjos que não sentem fome de nada
Viajam nas asas do vento e abrem as janelas do céu!

A existência do homem é fogo que não se apaga
É correr em vão só para cair no fundo do poço!

Com olhos molhados eu suplico ao Altíssimo
Faz-me outro - diferente de tudo o que já fui!

Lúcio, Pedro, Judas, Marcos, Mateus, Tiago, Felipe
Paulo, José, Ivan, João, Mateus, Antônio, André
Luciano, Ricardo, Joaquim, Tadeu, Ramiro, Marcos
Ângelo, Marcelo, Benedito, Alfredo, Eriberto, Vinícios

Leandro, Mário, Francisco, Caetano, Vicente, Érico
Sebastião, Daniel, Ícaro, Argemiro, Luís,Tôni, Rafael

Faz-nos outros!
Somos apenas meninos em jardins suspensos!
Trememos de medo! O chão está muito longe!

Jorge, Dênis, Leonardo, Camilo, Márcio, João Batista
Paulo de Tarso, Licurgo, Domingos, Jônatas, Osmam, Rui
Jonas, Cláudio, Sidnei, Alan, Damião, Virgulino, Caribé
Antenor, Olavo, Dante, Othon, Emiliano, Nestor, Nicolau
Raimundo, Simão, Vanderlei, Adriano, Nerivan, Miguel
Severino, Almir, Edson, Ney, Orlando, Ulisses, Inácio

Paulo de Tarso, Paulo Neuman, Paulo Luís
Renato, Kátia, Marcos
Trago Boas Novas!

Tiago, Ismael, Adrebal, Lílian, Isac, Ítalo
Sônia, Dora, Ferro, Antônia, André e tantas Marias!
Paulo Neuman

HEMATOMAS




Do lado de fora, em sua beleza complexa
Pulsa a metrópole, com seus nobres e plebeus
No Metrô, mil caras, tantos sonhos e pesadelos
Sim, São os homens em dias úteis - as fábricas!

Mas aqui deste lado, somente eu: feio e só
Exilado estou nos hematomas dos meus olhos
Quem me dera poder trazer a minha mãe do túmulo
Voltaria vencido para o seu útero e seios!

Mas o levantar dos mortos é coisa dos céus!

Do lado de fora, os belos fazem a beleza da cidade
Teatros, negócios, museus, igrejas, luzes, jantares
Aqui dentro, um homem em cinzas - nem houve carnaval
Um dia ele sonhou que seria o Sal da Terra, coitado!

Ele nunca foi bonito, mas agora parece um bicho
Se ele pudesse chorar - menor seria a dor que arde
Mas já não há mais lágrimas -secaram-se os rios
Ele sente medo, está acuado, vencido, desolado!

No rádio ele ouve uma canção de Gil e outras tantas
Muitas canções o fazem chorar, noutras até tenta rir
Mas o que ele quer mesmo é embarcar no expresso 2222
Pois dizem que lá o Cristo já está subindo ao Céu!

No madeiro todos ficam muito feios! Até mesmo ELE ficou horrendo!
Mas a morte é a porta que nos conduz para o outro lado!

Lá fora há sol e as pessoas fazem as cenas cotidianas
Aqui dentro, coração quase parado, ele sai de cena
E se todos virarem a cara para ele?! Ele é fraco!
É transgressor, é infeliz, é pecador, é traidor...

Que ele possa ter fé no Concreto de Luz, Altíssimo!

Podem bani-lo do quadro da vida
Cores e formas já não são as mesmas!

Para ele tudo já é diferente daquelas belas cores e formas
Músicas, telas e esculturas que um dia adornaram seus sonhos!

Por uma questão de justiça, não se pode ter piedade dele!
Afinal, não passa de um transgressor, porco feio e vencido

Que todos os hematomas lhe caiam como uma luva, miserável!
Que a aflição seja a sua comida e que fique só - feridas e pesadelos!

Todos sabem de tudo! Ele ainda não sabe tudo sobre si mesmo!
Poucos sabem que há um capaz de criar a partir do nada
Não chore, menino! Se Deus quiser, hematomas não será o seu fim
É preciso que alguém o diga que hematomas não são nada!
Paulo Neuman

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Eles Irão Todos pro Céu!

Se a Sociedade é toda ela construída por mecanismos mercantis, é certo que o que chamam de Reino dos Céus pertence mesmo aos miseráveis, aos desprovidos de quaisquer recursos, haja vista que as Coisas Lá de Cima não podem jamais ser avaliadas monetariamente! Um beijo a todos os miseráveis que perambulam pela ruas, despertando o desprezo daqueles que vivem tão-somente por terem uma relação com o capital financeiro - se assim não fosse, certamente se matariam!
Paulo Neuman